Mulheres aceitam cortes salariais em troca de flexibilidade no trabalho

Mulheres aceitam cortes salariais e menor progressão na carreira para priorizar flexibilidade e a vida pessoal, revertendo avanços na igualdade de gênero.
cortes salariais trabalho flexibilidade — foto ilustrativa cortes salariais trabalho flexibilidade — foto ilustrativa

A busca por flexibilidade e equilíbrio entre vida profissional e pessoal tem levado mulheres a aceitar cortes salariais, especialmente em resposta às exigências de retorno ao escritório (RTO) impostas por diversas empresas. Essa nova dinâmica reverte tendências anteriores de redução da disparidade salarial de gênero.

Mulher trabalhando em casa, com foco em equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Flexibilidade é prioridade para muitas profissionais, que chegam a aceitar salários menores.

Aumento da Disparidade Salarial de Gênero

Relatos indicam que, após décadas de diminuição, a diferença salarial entre homens e mulheres voltou a crescer. Dados recentes mostram que as mulheres ganharam 80,9 centavos por cada dólar ganho por homens em 2024, uma queda em relação aos 84 centavos registrados em 2022. A renda média masculina, ajustada pela inflação, aumentou 3,7% entre 2023 e 2024, enquanto a feminina permaneceu praticamente estável, a maior disparidade desde 2016.

Pesquisadores atribuem esse fenômeno a múltiplos fatores, incluindo a saída de mulheres de empresas que impõem trabalho presencial integral, a escassez de opções acessíveis de cuidado infantil e as mudanças na composição da força de trabalho após a pandemia. Um estudo com milhões de profissionais de Finanças e tecnologia revelou que, em empresas com exigência de presença, a rotatividade entre mulheres é quase três vezes maior que a de homens, com muitas aceitando cargos inferiores ou em outros setores.

Motivações e Impactos do Retorno ao Escritório

As maiores responsabilidades familiares frequentemente aumentam o desejo por flexibilidade, levando mais mulheres a aceitar perdas de status profissional. A pesquisa, atualizada em 2024, coincide com o aumento dos esforços corporativos para o retorno ao escritório. A porcentagem de empresas da Fortune 100 que exigem trabalho integral presencial quase dobrou desde 2023, passando de 16% para 29%. Especialistas como Mark Ma, professor da Universidade de Pittsburgh, preveem que a situação pode ter se agravado, com mais imposição de regras rígidas e menos vagas remotas disponíveis.

Grandes CEOs, como Andy Jassy da Amazon, defendem o modelo presencial alegando fortalecimento da conexão e inovação. John Stankey, CEO da AT&T, chegou a afirmar que quem necessita de um modelo totalmente remoto terá dificuldades em alinhar suas prioridades com as da empresa.

Gráfico mostrando disparidade salarial entre homens e mulheres ao longo dos anos.
A disparidade salarial de gênero voltou a crescer nos últimos anos.

Cuidado Infantil e a Penalidade da Maternidade

A disparidade de ganhos entre homens e mulheres diminuiu por décadas, impulsionada pela maior participação feminina no mercado e por legislações de igualdade salarial. No entanto, o cuidado infantil continua sendo um obstáculo significativo. Quando as demandas de cuidado familiar aumentam, as mulheres são, em geral, as que interrompem suas carreiras, um fenômeno conhecido como “penalidade da maternidade”. Essa questão responde por grande parte da disparidade salarial remanescente. Pesquisas indicam que a melhoria no Acesso a creches pode levar a um aumento nos ganhos femininos, aproximando-os dos masculinos.

As responsabilidades de cuidado podem consumir até US$ 295 mil em rendimentos ao longo da vida de uma mulher, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA. Durante a pandemia, a Falta de opções de creche forçou mais mulheres do que homens a deixar o mercado de trabalho. Atualmente, os custos crescentes e a escassez de creches agravaram a situação, com o custo de um ano de cuidado infantil para um bebê superando o valor de uma faculdade estadual em muitas regiões dos EUA e ultrapassando o aluguel em 17 estados.

O Cenário para Mulheres no Mercado de Trabalho

Recrutadoras observam um número crescente de candidatas dispostas a aceitar cortes salariais em troca de maior flexibilidade, especialmente diante de mandatos mais rígidos de retorno ao escritório. Entre mães de 25 a 44 anos com filhos pequenos, a proporção de trabalhadoras na força de trabalho caiu significativamente entre janeiro e junho de 2025, atingindo o menor nível em três anos. Essa queda ocorre simultaneamente ao aumento das exigências presenciais por grandes empregadores, anulando progressos recentes na participação feminina. Profissionais de alta renda estariam deixando o Mercado, enquanto as de menor renda “não têm o luxo de se afastar”, segundo especialistas.

A falta de vagas flexíveis e os altos Custos de creches limitam as opções, tornando a escolha por um trabalho mais flexível uma decisão difícil para muitas mulheres. O panorama atual sugere que a busca por equilíbrio entre carreira e vida pessoal pode, paradoxalmente, levar a retrocessos na igualdade salarial.

Fonte: Folha de S.Paulo

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