A hipocrisia disfarçada de virtude é traiçoeira, apresentando-se com um verniz de empatia, mas carregando conveniência. Atualmente, enquanto se fala em inclusão, portas são fechadas para a exclusão, e promessas de igualdade coexistem com a manutenção de privilégios.
Discursos progressistas frequentemente se desfazem diante da primeira chance real de demonstrar coerência. O governo federal, rápido em se autoproclamar defensor das minorias e das mulheres, agora se depara com uma oportunidade concreta de indicar uma mulher preparada para o Supremo Tribunal Federal (STF). Seria o momento ideal para transformar o discurso em ação, mostrando que a Defesa das mulheres transcende palanques e hashtags.
Contudo, a bandeira da representatividade parece funcionar mais como símbolo de campanha do que como prática de Governo. Na política, o protagonismo feminino é muitas vezes tratado como acessório decorativo.
A pauta da igualdade, amplamente explorada em discursos oficiais, costuma desaparecer quando o assunto envolve a divisão do poder real. O ditado “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” resume a incoerência institucional.
O discurso de defesa das mulheres, repetido com entusiasmo em eventos e propagandas, tem servido mais como ferramenta de marketing político do que como política de Estado. Profissionais qualificadas, preparadas e experientes seguem à margem das grandes decisões do país, inclusive aquelas que moldam a própria Justiça brasileira.
A pergunta que surge é se a tão proclamada “Luta pela representatividade” se limita à porta do Supremo. Ou se a igualdade de gênero só é bem-vinda quando não ameaça a estrutura de poder consolidada.
O Brasil não precisa de slogans, mas de coerência. Reconhecer que existem mulheres altamente qualificadas para ocupar uma cadeira no STF é um passo necessário. Mulheres com trajetória jurídica sólida, independência intelectual e compromisso com a Constituição, e não com partidos, grupos ou ideologias.
Dar esse passo seria um gesto de justiça, transformando o discurso em ação efetiva e reforçando a credibilidade das políticas de igualdade de gênero. A indicação de uma mulher para o STF seria um marco na busca por um Judiciário mais representativo e equitativo.
O Papel da Representatividade no STF
A composição do Supremo Tribunal Federal é fundamental para a imagem de justiça e equidade do país. Historicamente, o tribunal tem sido majoritariamente masculino, o que gera debates constantes sobre a necessidade de maior diversidade. A inclusão de mulheres na mais alta corte do país não é apenas uma questão de representatividade numérica, mas também de trazer novas perspectivas e experiências para a análise de casos complexos.
Especialistas em direito e políticas públicas argumentam que a diversidade no STF pode levar a decisões mais ponderadas e que considerem um espectro mais amplo de impactos sociais. No entanto, a escolha para compor a corte deve sempre priorizar a qualificação técnica e jurídica, sem comprometer os critérios de excelência.
Coerência e Ação Governamental
A crítica ao governo federal reside na aparente desconexão entre o discurso e a prática. Enquanto a retórica exalta a importância da igualdade de gênero e da inclusão, as ações concretas, como a indicação para o STF, parecem priorizar outros fatores. Essa falta de coerência pode minar a confiança pública nas intenções do governo em promover mudanças reais.
Para que as políticas de igualdade ganhem força, é essencial que haja alinhamento entre as declarações públicas e as decisões institucionais. Isso inclui não apenas o STF, mas também outros espaços de poder e tomada de decisão em órgãos públicos e estatais.
Fonte: Estadão