Bancos dos EUA alertam sobre risco de bolha em ativos com economia resiliente

Executivos dos principais bancos dos Estados Unidos observam um panorama de negócios aquecido, impulsionado pelo desempenho expressivo dos mercados de ações no último trimestre e pela resiliência da economia americana e dos gastos do consumidor. No entanto, alguns executivos levantaram preocupações sobre a sustentabilidade dos preços dos ativos, alertando para o risco de uma bolha imobiliária.

Receita de Banco de Investimento Dispara e Finanças do Consumidor Mantêm-se Fortes

A Receita de banco de investimento do Goldman Sachs registrou um crescimento de 42% no terceiro trimestre, enquanto o J.P. Morgan Chase viu suas comissões na área subirem 16%. O Wells Fargo e o Citigroup também apresentaram desempenhos robustos nesse segmento. As finanças do consumidor permanecem saudáveis, com o J.P. Morgan notando que a inadimplência está abaixo das expectativas, embora haja monitoramento contínuo para identificar qualquer deterioração.

“O ambiente macroeconômico reflete a economia mundial, que se mostrou mais resiliente do que muitos previam. Os EUA continuam a determinar tendências, impulsionados por gastos consistentes do consumidor, assim como investimentos na área de tecnologia”, afirmou a CEO do Citigroup, Jane Fraser. “Dito isso, há bolsões de efervescência de valuations no Mercado.”

Fusões e Aquisições em Alta e Mercados de Capitais Aquecidos

O diretor financeiro do Wells Fargo, Mike Santomassimo, indicou um forte pipeline de fusões e aquisições (M&A). Seu colega no J.P. Morgan, Jeremy Barnum, descreveu o verão como extremamente movimentado para M&A e antecipou um quarto trimestre com bom ritmo para mercados de capitais e ofertas públicas iniciais (IPOs).

As transações são beneficiadas pela alta dos preços dos ativos, com mercados de ações americanos atingindo recordes seguidos, impulsionados pela expectativa de cortes nas taxas de juros do Federal Reserve. Contudo, essa euforia levanta temores sobre uma correção abrupta nos preços dos ativos, um alerta ecoado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre a complacência com riscos comerciais e geopolíticos.

CEO do J.P. Morgan Alerta para “Território de Bolhas”

“Muitos ativos parecem estar entrando no território das bolhas. Mas esses preços alimentam as áreas de banco de investimentos, ações e gestão de ativos”, comentou Jamie Dimon, CEO do J.P. Morgan. Ele observou que os mercados de crédito já apresentam “os primeiros sinais de um certo excesso”. As ações do Wells Fargo dispararam 8% e as do Citigroup subiram 5%, enquanto as do Goldman e J.P. Morgan caíram levemente.

Mac Sykes, gestor de carteira da Gabelli Funds, destacou o ímpeto contínuo na maioria das linhas de negócios, a força de Wall Street e a resiliência da demanda por crédito ao consumidor. As comissões globais de banco de investimento alcançaram o maior nível em quatro anos nos primeiros nove meses de 2025, sustentando os ganhos.

Volatilidade Gera Oportunidades, Mas Risco Persiste

“A questão a respeito de situações turbulentas é que elas criam oportunidades, e a volatilidade de mercado que tivemos ao longo dos últimos meses criou o ambiente perfeito para que os bancos de investimento dos EUA prosperem”, disse Danni Hewson, chefe de análise financeira da AJ Bell. As comissões globais de bancos de investimento cresceram 9% até agora no ano, totalizando US$ 99,4 bilhões, o maior nível desde 2021, segundo o London Stock Exchange Group (LSEG).

Negócios com M&A, especialmente nos setores de tecnologia e financeiro, com aumentos de 55% e 34% nas comissões, respectivamente, foram destaque no terceiro trimestre. Regulamentações mais brandas do governo Donald Trump, que compensaram incertezas de tensões comerciais, também impulsionaram as negociações. Executivos esperam mais vitórias regulatórias com a reformulação de regras de capital por agências reguladoras de bancos.

Fusões e aquisições globais saltaram 40% no terceiro trimestre em comparação com o ano anterior, com mega transações atingindo US$ 1,26 trilhão, de acordo com dados da Dealogic. A aquisição da Electronic Arts por US$ 55 bilhões por um consórcio liderado pelo Silver Lake exemplifica essa retomada.

David Solomon, CEO do Goldman Sachs, expressou otimismo com o balanço, mas ressaltou a necessidade de gestão de risco disciplinada em um mercado cíclico. O governo Trump também tem fomentado transações em setores cruciais para a segurança nacional e econômica.

Fonte: Valor Econômico