A Polícia Federal reuniu evidências que apontam para um possível desvio de recursos destinados a aposentadorias e pensões do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) pelo Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi). O esquema, segundo as investigações, teria direcionado verbas para uma empresa de fachada e para familiares de dirigentes sindicais.
O Sindnapi, responsável por cadastrar aposentados no INSS e autorizar descontos automáticos em seus benefícios, teria recebido um montante de R$ 389 milhões entre 2021 e 2025, proveniente desses descontos.
Em nota, a Defesa do Sindnapi refutou veementemente qualquer irregularidade, declarando “absoluto repúdio e indignação com quaisquer alegações de que foram praticados delitos em sua administração ou que foram realizados descontos indevidos de seus associados”.
Operação Sem Desconto: Mandados e Bloqueio de Bens
Com base nas informações coletadas, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça autorizou uma nova etapa da Operação Sem Desconto. A ação incluiu buscas, apreensões e o bloqueio de bens do Sindnapi e de seu atual presidente, Milton Baptista. O valor bloqueado totaliza R$ 389 milhões, estendendo-se a outros diretores do sindicato e a duas outras entidades associativas.
O Sindnapi tem entre seus dirigentes José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, que é irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora Frei Chico não seja diretamente citado na investigação e não tenha sido alvo das medidas atuais, os fatos sob apuração concentram-se na gestão anterior do sindicato.
Modus Operandi e Suspeita de Lavagem de Dinheiro
A Polícia Federal descreveu o modus operandi como um “encadeamento de transações” que envolvia o núcleo diretivo do sindicato, empresas de fachada e parentes dos dirigentes. O objetivo seria ocultar e dissimular a origem e a natureza dos valores desviados, caracterizando o crime de lavagem de dinheiro. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, concordou com a análise da PF.
Uma das principais suspeitas recai sobre a empresa Santmax Engenharia, que teria recebido R$ 1,1 milhão do Sindnapi. A PF levanta a hipótese de ser uma empresa de fachada, uma vez que não possui funcionários registrados desde 2018 e seu endereço é uma residência sem identificação comercial.
Investigação e Trâmites Judiciais
O pedido de busca e apreensão foi apresentado pela PF em junho deste ano. Após meses de tramitação no STF, com o caso passando pelas mãos do ministro Dias Toffoli, o ministro André Mendonça deu prosseguimento à solicitação em setembro. A manifestação do procurador-geral da República foi favorável à continuidade das investigações.
O falecido ex-presidente do Sindnapi, João Batista Innocentini, também é mencionado na investigação por ter realizado Transferências de R$ 328 mil para um escritório de advocacia de seu genro, além de ter recebido recursos de uma pessoa ligada ao sindicato.
O Sindnapi reiterou, em nota divulgada anteriormente, que comprovará a “lisura e legalidade de sua atuação”, sempre em Defesa de seus associados.
Fonte: Estadão