As taxas de juros reais extraídas das NTN-B, títulos atrelados ao IPCA, sofrem no início desta semana. A causa é a especulação no mercado financeiro sobre um possível reajuste nos preços dos combustíveis, impulsionado pela forte queda do petróleo Internacional. Essa possibilidade tem levado a uma reprecificação das estimativas de inflação “implícita”, resultando em um forte salto dos juros reais de curto prazo.
Nos últimos dias, o acordo de cessar-fogo entre Israel e Palestina, costurado pelos Estados Unidos, reduziu o prêmio de risco ligado à escassez de oferta do Oriente Médio nos contratos futuros do petróleo, o que provocou uma desvalorização acentuada da commodity. Conforme dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem dos preços da gasolina no Brasil em relação ao preço de paridade de importação (PPI) aumentou para 9%.
Com este cenário, investidores domésticos estimam que um reajuste nos preços dos combustíveis pode estar próximo, mesmo sem sinalização clara da Petrobras. “Estão falando sobre esse tema, sim. Em algum momento teria que vir um corte na gasolina”, comenta um trader de renda fixa de um importante banco local.
Mercado Antecipa Inflação Menor com Combustíveis
Os agentes do mercado passaram a embutir em suas projeções uma inflação de combustíveis mais baixa no curto prazo. As medidas de inflação implícita, extraídas da diferença entre as taxas nominais e os juros reais das NTN-Bs, recuaram nos últimos dias. Para que esse movimento ocorra, investidores vendem títulos atrelados à inflação para elevar o juro real e diminuir a diferença em relação à taxa nominal dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI).
Por volta das 16h, a taxa da NTN-B com vencimento em agosto de 2026 saltou de 10,19% para 10,26%. Já o juro real da NTN-B com vencimento em maio de 2027 avançou de 8,89% para 8,95%. Esse movimento dá sequência à tendência da véspera, quando a taxa da NTN-B de 2027 chegou a saltar de 8,83% para uma máxima de 8,90%.
“Essas [taxas das] NTN-Bs curtas estão subindo muito por conta do combustível. A defasagem dos preços da gasolina está relativamente alta”, afirma outro trader consultado em condição de anonimato, para quem o mercado está antecipando uma inflação menor no curto prazo.
Fatores Adicionais Impactam Cenário Econômico
A discussão em torno dos preços da gasolina se soma à melhora recente do quadro inflacionário, evidenciada pelo IPCA de setembro. Adicionalmente, os temores do mercado sobre a possibilidade do Governo implementar o projeto de zerar as tarifas de ônibus em 2026 também geram preocupação. Embora vista como de difícil implementação, essa medida poderia ter um forte impacto sobre o IPCA do próximo ano, a menos que o custo total da passagem do transporte público fosse zerado – nesse caso, o item seria retirado das contas do IPCA, de acordo com a metodologia do IBGE.
O contexto econômico atual, marcado pela volatilidade nos preços do petróleo e incertezas fiscais, exige atenção redobrada dos investidores e analistas de mercado. A reação das NTN-Bs de curto prazo reflete a sensibilidade do mercado a esses fatores, antecipando movimentos que ainda não foram confirmados oficialmente pelas empresas ou pelo governo.
Fonte: Valor Econômico