No cenário político brasileiro, poucos nomes ressoam com a mesma capacidade de articulação e projeção de centro como Gilberto Kassab. Um antigo jingle paulistano o apresentava como “o único garantidor de um projeto de centro para o Brasil“, uma profecia que se desenrola com a força de um líder com experiência em navegar crises e construir pontes entre diferentes espectros políticos.
Kassab, ex-prefeito de São Paulo, consolidou uma força política de centro com projeção eleitoral, capacidade de garantir governabilidade e uma liderança sólida. Sua trajetória, iniciada como vereador e passando por posições-chave na gestão pública, demonstra uma habilidade ímpar em ascender ao centro do poder. Foi ministro de Estado, comandando pastas de grande relevância como Minas e Energia e Agricultura, evidenciando sua influência no governo federal.
A Formação de um Articulador Político
A carreira de Kassab é marcada pela administração em tempos de crise. Pupilo de Guilherme Afif Domingos, iniciou como vereador em São Paulo e, em pouco tempo, tornou-se secretário de Planejamento. Durante a gestão de Celso Pitta, mesmo em um cenário de impopularidade, Kassab foi peça fundamental no movimento “Reage, Pitta”, demonstrando sua capacidade de gerenciar adversidades e manter a estabilidade.
Sua ascensão se consolidou ao ser eleito deputado federal em 1998. Seis anos depois, em um momento estratégico da política paulistana, Kassab foi escolhido para ser vice na chapa de José Serra à Prefeitura de São Paulo. Essa Parceria permitiu que Serra focasse em sua meta presidencial, deixando a gestão da capital nas mãos de Kassab.
A Lei Cidade Limpa e a Construção do PSD
Como prefeito, Kassab imprimiu sua marca com a Lei Cidade Limpa, um marco na gestão urbana. Sua gestão manteve alta aprovação, permitindo uma reeleição praticamente certa. Contudo, sua trajetória partidária também foi significativa. O PFL, partido ao qual era filiado, passava por um processo de modernização. Kassab foi crucial na redefinição ideológica do partido, que se renomeou para Democratas (DEM), com Rodrigo Maia como um dos primeiros presidentes dessa nova fase.
Em 2008, Kassab foi reeleito prefeito pelo DEM. No entanto, o partido enfrentava desafios, com declínio eleitoral e crises. Percebendo o cenário nacional, onde Lula preparava a sucessão de Dilma Rousseff, Kassab viu a oportunidade de fundar um novo partido: o Partido Social Democrático (PSD). Essa articulação, embora tenha custado popularidade como prefeito, resultou na criação de uma nova força política.
O PSD como Pilar do Centro Político
Com o PSD estabelecido em 2011, Kassab tornou-se um aliado estratégico do PT em nível nacional, fornecendo governabilidade para Dilma Rousseff, mesmo mantendo enfrentamentos locais, como o apoio a José Serra contra Fernando Haddad em 2012. Essa flexibilidade na composição política, similar à lógica de partidos europeus como os Verdes alemães, busca a união por afinidade em temas centrais, mesmo com divergências.
Atualmente, o PSD ocupa espaços importantes no Governo federal com ministros como André de Paula, Carlos Fávaro e Alexandre Silveira. O partido também projeta lideranças como os governadores Ratinho Jr. e Eduardo Leite para 2026. Em um cenário de polarização, com a federação União Progressista e o MDB divididos, o PSD surge como o principal garante de uma candidatura presidencial de centro para as próximas eleições.
Kassab, mesmo sem mandato há mais de uma década, é reconhecido como um “oráculo” por sua capacidade de articulação e visão de longo prazo. Sua influência estende-se da extrema direita à extrema esquerda, consolidando o PSD como um polo de atração para negociações e composições futuras, fundamental para a estabilidade política e econômica do Brasil.
Fonte: Estadão