Uma investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo (MPSP) revela conexões entre as gestoras de recursos Reag Administradora de Recursos e Altinvest e o Primeiro Comando da Capital (PCC). A Operação Carbono Oculto aponta para uma infiltração do crime organizado na economia formal, utilizando estruturas jurídicas e societárias para ocultar ativos e lavar dinheiro.
Segundo o MPSP, a Reag e alguns de seus sócios e diretores, assim como acionistas da Altinvest, teriam participações em negócios ligados à facção, além de outras conexões. A operação visa desarticular esquemas que facilitam a entrada e saída de recursos ilícitos e a gestão operacional de empresas adquiridas com fundos de origem duvidosa.
Conexões da Reag com Negócios Criminosos
A Reag Administradora de Recursos e seu ex-sócio Walter Martins Ferreira III foram apontados como representantes legais da Usina Itajobi, em Catanduva (SP). A propriedade foi adquirida pelo fundo Mabruk II, gerido pela Reag e cujos recursos, segundo o MPSP, pertencem a Mohamad Mourad, principal suspeito de lavagem de dinheiro do PCC. Mourad, conhecido como “Primo”, é descrito como o “epicentro das operações” criminosas, com envolvimento em fraudes fiscais, ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro.
Documentos do Gaeco indicam que Walter Martins Ferreira III atuou como diretor administrativo, financeiro e comercial da Usina Itajobi. Ele também foi eleito diretor de compliance e lavagem de dinheiro da Reag. Outros nomes ligados à Reag, como Ramon Dantas (diretor executivo) e Silvano Gersztel, também aparecem como representantes em operações imobiliárias e societárias vinculadas ao grupo de Mourad, incluindo fundos como Mabruk II e Participation.
O Papel da Altinvest e Rogério Garcia Peres
A investigação também aponta para o envolvimento de Rogério Garcia Peres, sócio da Altinvest, em empreendimentos ligados ao grupo investigado. Peres faz parte do conselho de administração da Rede Sol Fuel, distribuidora de combustíveis que, segundo o MPSP, tem ligações com o grupo de Mourad. Ele também é sócio de postos de combustíveis em Catanduva (SP) e Araçatuba (SP) com Valdemar de Bortoli Junior, acionista da Rede Sol.
A Altinvest repudiou veementemente qualquer associação da empresa ou seus profissionais ao crime organizado, afirmando que todas as participações societárias são registradas e legais. A empresa declarou que Peres atuou na Rede Sol Fuel prestando serviços jurídicos e como conselheiro independente, sem envolvimento na gestão executiva ou em atividades ilícitas. Ele também atuou em programas de desmobilização imobiliária da BR Distribuidora.
Ouvidoria e Confirmação de Colaboração
Em nota, a Reag afirmou que as alegações são infundadas e que suas atividades seguem integralmente a legislação aplicável. A empresa defende que os atos praticados por seus diretores ocorreram exclusivamente na condição de representantes legais dos fundos administrados, e não em nome próprio ou da gestora. A Usina Itajobi declarou colaborar ativamente com as autoridades para o esclarecimento dos fatos.
Ricardo Saldanha, advogado da Rede Sol e de Bortoli Junior, refutou a ligação da empresa com o grupo de Mohamad Mourad, classificando a informação como “inverídica”. Ele ressaltou que a empresa e Bortoli Junior estão colaborando com as investigações.
Estruturas Societárias e Lavagem de Dinheiro
O MPSP aponta que práticas como o compartilhamento de endereços entre empresas do grupo conectado a Mourad facilitam a triangulação de notas fiscais, a simulação de operações comerciais e a lavagem de capitais. A Duvale e a Estrela, distribuidoras classificadas como “laranjas” na operação de Mourad, funcionam no endereço da Rede Sol. A Blue Star Locação de Equipamentos, empresa de fachada de Mourad para blindar seu patrimônio, vendeu caminhões à Rede Sol.
Lucas Pimentel de Oliveira Filho, ex-sócio da Altinvest e da Reag Trust Partners, também foi ligado ao grupo como diretor de operações da Stronghold Infra Investments, estrutura por trás da aquisição da operação portuária no Porto de Paranaguá. Ele negou qualquer vínculo atual ou conduta irregular.
Fonte: Estadão