O Brasil enfrenta um momento crítico no combate à corrupção. Escândalos recentes evidenciam a perda de vigor das estruturas de integridade e compliance, a negligência com controles internos e o avanço do crime organizado sobre setores estratégicos. Um exemplo preocupante é a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) na distribuição de combustíveis e, posteriormente, no mercado financeiro por meio de fintechs. Estes episódios não são isolados, mas sim sintomas de um Estado com capacidade reduzida de proteger seus setores vitais, chegando a um ponto de resignação diante da ameaça à soberania.
Setor de Combustíveis e a Fragilidade na Cadeia da Petrobras
O setor de combustíveis, essencial para a economia e segurança nacional, tornou-se um ponto de entrada para empresas associadas a facções criminosas. A Petrobras, que deveria liderar pelo rigor no controle de sua cadeia de fornecedores, revelou fragilidades em seus mecanismos de governança e compliance, mesmo após as lições da Operação Lava Jato.
A estrutura da Petrobras, que historicamente serviu como base para esquemas bilionários na esfera política, agora vê esse modelo replicado pelo crime organizado, afetando diretamente o setor de combustíveis e os mercados financeiros. A corrupção expandiu-se para áreas econômicas de alta relevância, aumentando riscos, distorcendo mercados e minando a Confiança institucional.
As fraudes no INSS, com descontos indevidos em aposentadorias e pensões, e a distribuição de emendas parlamentares sem transparência são exemplos recentes. A atuação de lobistas e escritórios de advocacia que conferem aparência de legalidade a operações suspeitas expõe a fragilidade dos controles internos e a vulnerabilidade de órgãos de proteção social. A impunidade se mantém como combustível para a criminalidade, tanto antiga quanto nova.
Fintechs na Faria Lima: Novo Palco da Criminalidade Financeira
O coração financeiro do país, representado pela região da Faria Lima, viu fintechs serem transformadas em ferramentas sofisticadas para a legalização de operações ilícitas de grande vulto. O que antes simbolizava inovação e modernização tornou-se uma avenida para a criminalidade, evidenciando a lentidão regulatória e a vigilância ineficaz em um setor outrora conhecido por sua eficiência.
O Papel do STF e a Naturalização da Corrupção
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem sido peça central nesse retrocesso. Sob o argumento de defender garantias individuais, o tribunal tem anulado investigações e condenações fruto de anos de trabalho de procuradores e juízes. O resultado é que figuras centrais em esquemas bilionários retornam à cena política com prestígio, enquanto a sociedade absorve a mensagem de que o crime compensa, especialmente para aqueles que alcançam o topo do sistema judicial. Essa situação contrasta com países como a China, que condena executivos por suborno, demonstrando uma percepção diferente sobre a corrupção como ameaça estrutural.
A Falta de continuidade em práticas de governança e compliance, combinada com o desmonte de estruturas de integridade e as decisões do STF, criaram um ambiente propício para o retrocesso. O país reincide em mecanismos de captura política e novas formas de criminalidade financeira.
Reputação Institucional Ameaçada e o Futuro Econômico
A naturalização da corrupção, vista como inevitável ou como um simples custo de fazer negócios, representa um risco à democracia, ao desenvolvimento e à segurança econômica do Brasil. Atinge diretamente a qualidade dos serviços públicos, como hospitais e escolas, e a infraestrutura de transporte, além de gerar insegurança jurídica que afasta investimentos.
Reverter esse quadro exige o fortalecimento da autonomia dos órgãos de controle, a blindagem de estatais contra a captura partidária, o aprimoramento da regulação de fintechs e a exigência de compliance em toda a cadeia de valor, com responsabilização efetiva dos setores público e privado. A conscientização e a indignação pública são cruciais para mudar essa realidade e proteger o futuro do país.
Fonte: Estadão