Pix: Como Pagamento Brasileiro Virou “Atração” dos EUA e Afeta Relações

Pix vira atrito Brasil-EUA. Investigação comercial dos EUA questiona atuação do BC e afeta gigantes como Mastercard e Visa. Entenda os motivos.
Pix Brasil EUA — foto ilustrativa Pix Brasil EUA — foto ilustrativa

O sistema de pagamentos instantâneos Pix, criado pelo Banco Central do Brasil (BC), tornou-se um ponto de atrito nas relações entre Brasil e Estados Unidos. A ofensiva do governo Donald Trump contra o Pix expôs um incômodo de longa data de empresas norte-americanas gigantes, como Mastercard e Visa, cujas receitas têm sido afetadas pela ascensão meteórica do rival estatal.

A atuação do BC, que opera e regula o Pix simultaneamente, já era questionada internacionalmente. A Suspensão do serviço de pagamentos via WhatsApp, da Meta, pouco antes do lançamento do Pix, reforçou a percepção de viés na atuação do Banco Central brasileiro, segundo fontes ouvidas pela Reuters.

A insatisfação ganhou contornos concretos com a inclusão do Pix em uma investigação comercial aberta pelos EUA sobre práticas comerciais brasileiras consideradas desleais. Adicionalmente, há um desconforto político diante de esforços do grupo Brics para buscar alternativas ao dólar.

Reações no Brasil e Defesa do Pix

O foco do governo Trump no Pix gerou reações intensas no Brasil. O sistema, com mais de 177 milhões de usuários, é um dos raros consensos em uma sociedade polarizada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o Pix em discurso, afirmando que ele é público, gratuito e permanecerá assim, impulsionando sua popularidade.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comparou a resistência a novos sistemas de pagamento com a Defesa do telefone fixo em detrimento do celular, indicando que frear a evolução tecnológica não faz sentido.

Edifício em construção no Brasil, simbolizando o mercado imobiliário e econômico.
Mercado de construção e financeiro no Brasil.

Histórico de Queixas de Empresas Americanas

Autoridades brasileiras nunca haviam expressado tanta indignação, mas o país já conhecia a frustração das empresas norte-americanas com o Pix há anos. Essa realidade persistia mesmo com diferentes alinhamentos políticos entre Brasil e EUA.

O Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), responsável pela investigação, já havia destacado em relatório anterior o papel duplo do BC como operador e regulador. O Conselho Empresarial dos Estados Unidos para Negócios Internacionais (USCIB), com membros como a Mastercard, apoiou a investigação do governo Trump.

Em 2021, o USCIB questionou a liderança do BC no sistema junto à OCDE, defendendo que o órgão implementasse medidas para lidar com seu conflito de interesses. A Câmara de Comércio dos EUA e o Conselho da Indústria de Tecnologia da Informação (ITI), que inclui Visa, Mastercard e Meta, também manifestaram queixas, alegando que o BC favorece o Pix por meio de exigências regulatórias.

Argumentos do Banco Central e Impacto nos Pagamentos

O BC defende seu papel como agente neutro que fornece infraestrutura digital pública, sem lucrar com o Pix. A autarquia ressalta que o sistema permitiu que o mercado se desenvolvesse de forma mais competitiva e incluiu mais de 70 milhões de pessoas no sistema financeiro.

Dados mostram que transações com cartões continuaram a crescer, mas sua participação total caiu. Atualmente, o Pix responde por 51% das transações no Brasil, enquanto cartões de crédito caíram de 20% para 14% e débito de 26% para 11% desde o lançamento do Pix.

Prédio da ONU e Bandeira do Brasil, indicando relações internacionais e políticas globais.
Relações diplomáticas e políticas internacionais.

Pagamentos com WhatsApp e a Competitividade

A suspensão pelo BC do sistema de pagamentos via WhatsApp em junho de 2020, poucos meses antes do Pix, também contribuiu para a insatisfação. Na época, a Meta (WhatsApp) se associou a Visa e Mastercard, mas o BC avaliou que a ampla base de usuários do aplicativo poderia concentrar o mercado, contrariando esforços para ampliar a concorrência.

Embora a Meta tenha se valido de uma brecha regulatória, o BC agiu para evitar a concentração. As transações com cartões via WhatsApp só foram liberadas dois anos depois, quando o Pix já liderava as transações. Recentemente, a Meta focou em soluções baseadas no Pix.

Brics e o Desafio ao Dólar

O desconforto de Washington também reflete inquietação com os esforços do grupo Brics para reduzir a dependência do dólar. Iniciativas como o projeto mBridge, apoiado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), foram vistas como tentativas de contornar o dólar, especialmente pela Rússia, sob sanções financeiras.

O presidente Lula tem enfatizado a necessidade de agilizar pagamentos comerciais e buscar alternativas ao dólar. No entanto, o projeto é tratado mais como uma declaração de intenção do que um plano concreto. O Brasil acompanha o tema de forma periférica, estudando iniciativas multilaterais como o Nexus, que integra sistemas de pagamento instantâneo para viabilizar transferências transfronteiriças.

Titãs norte-americanos como Mastercard e Visa reconhecem o risco de perda de mercado com a interconexão transfronteiriça de sistemas de pagamento. Ambas citam o Pix em seus relatórios anuais como uma solução que compete com seus negócios. A Visa, no Brasil, obteve autorização do BC para atuar como provedora de iniciação de pagamentos Pix, buscando integrar-se ao sistema.

Fonte: InfoMoney

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