O ouro atingiu um novo Recorde nominal de US$ 4.070,50 (R$ 21,7 mil) a onça troy na última quarta-feira (8). O metal precioso foi impulsionado pela paralisação econômica (shutdown) do governo dos Estados Unidos, que já dura alguns dias por falta de recursos. A crise fiscal americana intensificou a valorização do ouro, que está em ascensão vertiginosa desde o fim de 2022, reflexo da intensificação da guerra na Ucrânia e do confisco das reservas internacionais da Rússia.



Para reduzir a dependência do dólar, a Rússia intensificou a mineração e a compra de ouro. Com uma alta de mais de 140% desde então, a aposta no ativo tem sido crucial para as contas russas. A China também ampliou significativamente suas reservas, trocando títulos do Tesouro dos EUA (treasuries) pelo metal, o que contribui para a elevação de seus preços.
Analistas apontam 2025 como o melhor ano para o ouro desde 1979, período marcado por crise do petróleo e forte alta da inflação. Além da crescente demanda de bancos centrais, o preço do ativo foi impulsionado pela queda nos juros, que desestimula a renda fixa, e pela busca de proteção por parte dos investidores em um cenário de incertezas globais.
Shutdown nos EUA e a Fuga para Ativos Seguros
O shutdown nos Estados Unidos, causado pela falta de recursos para o orçamento federal, aumenta a percepção de risco sobre a economia americana. A dívida do país já ultrapassa US$ 36,2 trilhões (R$ 196 trilhões), o equivalente a 120% do PIB. Cerca de um terço dessa dívida pública está nas mãos de países estrangeiros, como Japão, Reino Unido e China, o que gera ceticismo quanto à segurança dos treasuries.
“Há uma fuga para ativos seguros por conta dessa incerteza global. Há um ceticismo em relação aos treasuries e aos títulos de dívida de outros países, por conta desse fiscal comprometido. Então, na dúvida, você vai para outros ativos seguros que não somente títulos de dívida de países desenvolvidos, porque nem eles mais são tão seguros quanto antes”, explica Matheus Spiess, analista da Empiricus.

O Cenário Econômico Favorável ao Ouro
O cenário atual de inflação resiliente e queda de juros nos EUA é descrito como um “céu de brigadeiro para ativos como o ouro”. A alta do metal precioso aprimora a relação risco-retorno dos portfólios, sendo recomendado que o ativo represente entre 2,5% e 5% do portfólio total do investidor, de acordo com análise de especialistas.
Ruy Alves, gestor da Kinea, também recomenda a compra de ouro, destacando que o ativo tende a performar bem em períodos de instabilidade geopolítica, tornando-se uma boa composição de carteira.
Como Investir em Ouro no Brasil?
Existem diversas formas de investir em ouro no Brasil. Uma delas é a compra direta do metal em bancos ou na B3. Outra opção são os papéis atrelados à cotação do ouro ou que replicam índices globais do metal.
Na B3, além do contrato Futuro de Ouro (GLD), que movimentou R$ 936 milhões entre julho e setembro de 2025, há ETFs (fundos de índice) como o GOLD11 e o GLDX11, além de opções internacionais como BIAU39 e ABGD39. Esses fundos são negociados como ações e replicam o desempenho do preço do ouro em reais.
Como alternativa, diante da máxima histórica do preço do ativo, as ações de mineradoras de ouro, como Aura Minerals (AURA33) e Newmont (N1EM34), também podem ser consideradas.

Cálculo do Preço e Custos de Investimento em Ouro
O preço do ouro é calculado com base na cotação internacional da onça troy na Bolsa de Chicago, em dólares. Essa commodity tem preços uniformes em todo o mercado global.
Para negociar ouro, o investidor precisa ter seu formulário de perfil de investidor válido e recursos em conta. As compras podem ser feitas por aplicativo, telefone ou agência bancária.
Geralmente, o ouro comprado em bolsa fica guardado na B3, com custódia vinculada à corretora. A B3 cobra uma taxa de custódia de 0,121% ao mês sobre o valor diário custodiado. Apenas na compra direta de 250 gramas (OZ1) é possível levar o metal para casa.
As taxas de corretagem em compras diretas no banco giram em torno de 0,4% sobre o valor total da operação. Nos contratos da B3, as tarifas variam conforme o volume negociado. A tributação sobre os ganhos obtidos na venda do ouro é de 15%, para negociações acima de R$ 20 mil no mês. ETFs e fundos também são tributados em 15% sobre o ganho de capital, sem isenção.
Recomendação para Investidores
O mercado de ouro é complexo e volátil, o que pode afastar investidores de menor porte. A recomendação é investir em fundos que incluam o metal em suas carteiras como contrapeso para a queda no preço das ações. O ouro é considerado uma forma segura de proteção em momentos de alta volatilidade, mas seus preços tendem a sofrer forte alta devido ao aumento da procura nesses períodos.

Fonte: Folha de S.Paulo