O impacto do ‘tarifaço’ imposto pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil já é sentido em 742 municípios brasileiros. Em setembro, segundo mês de vigência das novas tarifas, houve uma queda nas exportações para os americanos em comparação com o mesmo período do ano anterior. Cidades como Rio de Janeiro (RJ), Confins (MG), Sete Lagoas (MG) e Ribeirão Pires (SP) estão entre as mais afetadas.
Impacto Geral nas Exportações
As exportações brasileiras para os Estados Unidos somaram US$ 2,6 bilhões em setembro, representando uma queda de 20% em relação ao mesmo mês de 2024, quando as vendas atingiram US$ 3,2 bilhões. Produtos como carne bovina, ferro fundido, açúcares de cana, café não torrado, madeira e armas, que foram alvo das novas tarifas, registraram as maiores reduções.
O município do Rio de Janeiro (RJ) foi o mais impactado, com uma perda de US$ 62,2 bilhões, o que corresponde a uma queda de 22%. Empresas locais que exportam ferro e aço sentiram os efeitos, mesmo que parte dos produtos já estivesse sujeita a uma taxa de 50% desde o mês anterior.

Cidades e Setores Mais Afetados
Cidades como Confins (MG), Sete Lagoas (MG) e Ribeirão Pires (SP) também sofreram com a redução significativa nas exportações. Confins, que realizou vendas específicas de aeronaves em 2024, e Sete Lagoas, impactada pelas vendas de ferro e aço, viram suas exportações para os EUA praticamente zerarem em setembro.
Outros municípios fortemente dependentes dos produtos taxados também sentiram o golpe. Imperatriz (MA), por suas pastas de madeira; Joinville (SC), por máquinas e equipamentos; e Araxá (MG), por seu café, estão na lista. Ao todo, 265 cidades que exportaram para os EUA em setembro de 2024 não registraram faturamento no mesmo mês deste ano.
“Existem setores e empresas localizadas em lugares diferentes do Brasil em que o tarifaço se tornou proibitivo para poder dar continuidade ao processo de exportação”, avalia Constanza Negri, gerente de Comércio e Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ela destaca que, enquanto setores como agroindústria, carne e café podem ter mais facilidade para diversificar destinos, a indústria de máquinas e equipamentos enfrenta desafios maiores devido à sofisticação dos produtos e ao impacto das tarifas de 50%.
Situação de Piracicaba e Perspectivas Futuras
Piracicaba: Um Alívio Temporário
Piracicaba (SP), que havia sido identificada como o município mais ameaçado pelo tarifaço, registrou um aumento de US$ 29,4 milhões em suas exportações em setembro. A cidade, que exporta máquinas para as indústrias agrícola e automotiva dos EUA, ainda não sente plenamente os efeitos das tarifas. As vendas de setembro refletem negociações anteriores ao imposto, realizadas sob o modelo de forecast.
O impacto real para Piracicaba é esperado a partir de outubro e novembro, segundo Erick Gomes, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas da região. “O grande problema é que algumas empresas da região fornecem para uma multinacional que exporta para os Estados Unidos, fizeram investimentos e não vão conseguir ter esse retorno”, lamenta Gomes. As grandes empresas já revisaram suas projeções de produção e faturamento, e a cadeia de fornecedores é a mais impactada.
A indústria em Piracicaba produz bens altamente customizados para o Mercado americano. A adaptação para outros mercados demandará tempo, estimado em pelo menos dois anos. A incerteza paira sobre o futuro, com a possibilidade de as empresas americanas buscarem fornecedores em outros países ou aceitarem preços mais altos.
Diálogo Brasil-EUA e o Futuro das Relações Comerciais
Apesar da conversa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump ter gerado otimismo, analistas e exportadores ressaltam a necessidade de reverter o tarifaço. A taxação de 50% é considerada insustentável para as companhias e municípios mais dependentes do mercado americano.
“Os Estados Unidos são o principal destino da indústria de transformação, de produtos com valor agregado e bens que acarretam efeitos muito positivos para a economia. A cada US$ 1 bilhão exportado para os Estados Unidos, são gerados 24 mil empregos no Brasil”, afirma Constanza Negri, da CNI. Ela ressalta que esse número é significativamente maior do que as exportações para a Ásia, onde o mesmo valor gera 16 mil empregos. A reversão desse cenário é, portanto, indispensável para a economia brasileira.
Fonte: Estadão