O preço do ouro registrou uma valorização expressiva, superando 50% em um ano e atingindo seu maior patamar em um século. Desde abril, o metal precioso acumulou uma alta de cerca de um terço, impulsionado em parte pelas tarifas comerciais anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impactaram o comércio global.
Analistas apontam que a incerteza gerada pela paralisação do governo americano, que já entra em sua segunda semana, também afeta a confiança dos investidores. A Suspensão de serviços não essenciais, devido à falta de aprovação do orçamento federal pelo Congresso, eleva a percepção de risco no mercado.
O ouro é tradicionalmente visto como um ativo de refúgio, valorizando-se em períodos de instabilidade econômica e recessão. Essa característica o torna um indicador sensível do receio dos mercados financeiros.
Alta Histórica do Ouro e Recordes
A cotação do ouro ultrapassou a marca de US$ 4 mil por onça, estabelecendo novos recordes diários. A rentabilidade anual acumulada este ano atingiu aproximadamente 54%, a maior desde 1979. O preço à vista do metal precioso dobrou nos últimos três anos.
Essa escalada sem precedentes remete a um período similar observado nos anos 1970, após a suspensão dos acordos de Bretton Woods e o fim da conversibilidade do dólar em ouro. Especialistas como Marco Mencini, chefe de análises na Plenisfer Investimentos, destacam a singularidade desse movimento.
Para Carsten Menke, diretor de pesquisa da Julius Baer, a valorização histórica do ouro é atribuída ao “desaquecimento da economia americana, junto com as perspectivas de taxas de juros mais baixas e um dólar mais fraco”. Essas condições tendem a atrair investidores em busca de ativos seguros, sugerindo a manutenção da tendência.
Impacto da Paralisação do Governo Americano
A paralisação governamental nos EUA, decorrente de impasses nos gastos públicos, tem sido um fator adicional para a alta do ouro. Em eventos anteriores de paralisação, o metal precioso já demonstrou sua capacidade de atrair investidores, como na paralisação de um mês durante o primeiro mandato de Trump, quando o ouro subiu quase 4%.
Claudio Wewel, estrategista de câmbio na J. Safra Sarasin Sustainable AM, sugere que as Críticas de Donald Trump à independência do Federal Reserve (Fed) e ao Estado de direito podem ter contribuído para o aumento da cotação do ouro. O recente “aumento sem precedentes” superou as expectativas, segundo Heng Koon How, chefe de estratégia de mercados do banco UOB, que também associa a alta ao enfraquecimento do dólar e ao aumento de compras por investidores de varejo.
Gregor Gregerson, fundador da Silver Bullion, relata um aumento expressivo no número de clientes, com investidores de varejo, bancos e famílias buscando o ouro como proteção contra a incerteza econômica global. “A maioria dos nossos clientes são detentores de longo prazo”, afirmou Gregerson, prevendo que a tendência de alta do ouro possa durar pelo menos cinco anos.
Bancos Centrais Buscam Alternativas ao Dólar
A força do ouro a longo prazo está atrelada à estratégia de diversificação dos bancos centrais. Essas instituições têm aumentado suas reservas de ouro como medida de proteção contra a inflação e o risco de Mercado, buscando reduzir a dependência dos títulos do Tesouro dos EUA e do dólar.
O Conselho Mundial de Ouro indica que os bancos centrais compraram mais de 1 mil toneladas de ouro anualmente desde 2022, um volume significativamente maior do que a média anual de 481 toneladas entre 2010 e 2021. Países como Polônia, Turquia, Índia, Azerbaijão e China lideraram essas aquisições no ano passado.
Em 2022, o ouro sofreu uma desvalorização após o aumento das taxas de juros pelo Fed para combater a inflação pós-pandemia. Contudo, a expectativa de que o Fed possa reduzir os juros no futuro torna o ouro ainda mais atrativo. A pressão de Trump sobre o Fed, criticando publicamente seu presidente Jerome Powell e tentando interferir em suas decisões, pode minar a confiança na instituição, reforçando o papel do ouro como proteção contra a incerteza do mercado.
Fonte: G1