Um plano audacioso e controverso do ex-presidente Itamar Franco veio à tona, revelando ameaças de explodir a represa de Furnas, em Capitólio (MG), em outubro de 1999. O objetivo era barrar a privatização da hidrelétrica, que pertencia ao Governo federal, e confrontar o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Naquela época, cerca de 2.500 policiais militares mineiros foram mobilizados para a região. A ação, segundo relatos, era uma estratégia de Itamar Franco para desvalorizar a empresa e dissuadir investidores interessados. Ele desafiou publicamente a privatização, afirmando que Furnas só seria vendida com intervenção militar.
Confronto Político e Estratégia de Itamar
A motivação por trás das ações de Itamar Franco ia além da privatização de Furnas. Havia uma mágoa pessoal e política com Fernando Henrique Cardoso, que recebeu crédito pelo Plano Real e venceu a eleição presidencial de 1998, impedindo que Itamar concorresse por mais um mandato. Essa rivalidade gerou diversos embates, incluindo a moratória da dívida de Minas Gerais declarada por Itamar ao assumir o governo, o que agravou a crise cambial do país.
Em seu diário, Fernando Henrique Cardoso registrou a dificuldade em lidar com Itamar, descrevendo suas ações como uma tentativa de criar um caso político devido a ressentimentos e ao desejo de retornar à Presidência.
A “República do Pão de Queijo” contra o Capital Estrangeiro
A mobilização policial em Furnas, que durou poucos dias e terminou sem a explosão planejada, foi interpretada por jornalistas da época como uma encenação. Ivana Moreira, enviada especial do Estadão, descreveu a situação como um “jogo de cena” e uma “República do Pão de Queijo” contra o “McDonald’s”, simbolizando a postura nacionalista de Itamar Franco contra a entrada de capital estrangeiro em setores estratégicos.
O embate contra privatizações também se estendeu a outras áreas. Em 2000, Itamar Franco mobilizou a polícia mineira para proteger o Palácio da Liberdade de uma suposta invasão federal, motivada por um plano do Movimento Sem-Terra (MST) de invadir uma fazenda da família de FHC. A tensão gerou troca de acusações entre os governos.
O Legado da Resistência e a Privatização Póstuma
A resistência de Itamar Franco às privatizações deixou Marcas na política mineira. Em 2001, ele conseguiu aprovar a exigência de referendo popular para privatizar a Cemig e a Copasa, empresas estatais de energia e saneamento. Atualmente, o governador Romeu Zema (Novo) tenta reverter essa exigência, especialmente para a Copasa.
Furnas, por sua vez, só teve seu controle repassado em 2024, com a incorporação ao patrimônio da Eletrobras, após ter sido subsidiária da estatal vendida no governo Jair Bolsonaro. A Luta de Itamar contra a privatização na década de 1990, embora não tenha impedido o processo a longo prazo, moldou o debate sobre a venda de estatais no Brasil.
Fonte: Estadão