O Governo do presidente Lula, antes caracterizado como reativo e sem uma marca definida, agora demonstra ter desenvolvido um discurso competitivo e uma estratégia clara para a sua permanência no poder. O Planalto, que por muito tempo esteve acuado, conseguiu assumir a dianteira no debate público, especialmente ao final do terceiro ano de mandato.
Lula, que nunca esteve fora do jogo político, reassumiu o controle, apresentando uma fórmula que justifica seus gastos e busca criminalizar a oposição. Sua estratégia de campanha para a reeleição em 2026 já é visível, com um novo mote focado em diminuir a desigualdade social, conforme aponta o colunista Carlos Andreazza.
A guinada política é clara: o presidente que taxava produtos de luxo, como bolsas, agora propõe a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Essa ação, que cumpre uma promessa eleitoral e mexe com um Tabu, abre caminho para novas promessas, como a de que os mais ricos financiarão o alívio para os mais pobres. Um exemplo disso é a proposta de tarifa zero para o transporte público, que já deve figurar no programa de Lula à reeleição, independentemente de sua factibilidade ou custo.
Reaproximação com a Base e Discurso à Esquerda
Após quase oito anos, o PT parece estar se reaproximando de sua base social. O presidente se encontra em uma posição mais à esquerda do que quando foi eleito em 2022. A estratégia de articulação de uma frente ampla em defesa da democracia e da soberania nacional já não é mais suficiente para garantir a Vitória eleitoral, sendo substituída por um discurso mais combativo.
Lula agora enfrenta seus adversários com a bandeira do combate à desigualdade, focado em tomar dos ricos para dar aos pobres. Uma propaganda recente do PT veiculada na TV compromete-se com a revisão da escala de trabalho 6×1, um tema sensível e de grande impacto social, reforçando o tom de suas promessas eleitorais.
Fernando Haddad e a Nova Abordagem Tributária
Em contraste com o passado recente, quando Fernando Haddad, apelidado de “Taxxad”, aumentava impostos de forma hesitante e muitas vezes precisava recuar, o governo atual assumiu uma nova postura. A taxação é agora uma ferramenta explícita na luta política, com a narrativa de que qualquer oposição a ela representa estar “contra o Brasil“.
A mudança de estratégia é notável, especialmente com o governo promovendo revisões significativas no Imposto de Renda. A promessa de que os “ricaços vão pagar o imposto que merecem” reforça a narrativa de Justiça fiscal e redistribuição de renda, elementos centrais na campanha de reeleição.
Desafio à Oposição e Cenário Eleitoral
Lula já definiu o tom para o ano eleitoral, declarando que “o Congresso Nacional não derrotou o governo. Derrotou o povo brasileiro”. Ele também sinalizou seu adversário preferencial para 2026: Tarcísio de Freitas, o governador de São Paulo, que é rotulado como um “defensor dos milionários” e teria trabalhado contra medidas que aumentavam impostos, como a MP do IOF, visando “proteger a Faria Lima”.
O governo atual busca consolidar uma marca e um discurso que engajem e convençam, utilizando conquistas materiais como a isenção do IR para comprovar sua capacidade de cumprir promessas. A estratégia se baseia em apresentar a luta contra a desigualdade como o principal eixo de sua futura campanha, prometendo reformas que impactam diretamente o bolso dos cidadãos e a estrutura econômica do país.
Fonte: Estadão