A reciclagem de lixo eletrônico, um desafio global que gera milhões de toneladas anualmente, pode finalmente se tornar uma operação lucrativa graças aos avanços em robótica e Inteligência Artificial (IA).


Apenas 22,3% dos resíduos eletroeletrônicos gerados no mundo são coletados adequadamente, segundo o Global E-waste Monitor 2024. Em 2022, foram produzidas cerca de 62 milhões de toneladas desse tipo de resíduo, com o Brasil liderando a produção na América do Sul, com 2,4 milhões de toneladas. Essa situação representa não apenas um prejuízo ambiental, com a liberação de substâncias tóxicas, mas também a perda de aproximadamente US$ 62 bilhões em recursos naturais valiosos.
Desafios da Reciclagem Tradicional
A baixa eficiência na reciclagem de eletrônicos se deve a diversos fatores, incluindo a Falta de conscientização do consumidor, infraestrutura de coleta inadequada e o alto custo do processo de desmontagem manual. Atualmente, a desmontagem e o reaproveitamento de componentes são realizados de forma quase artesanal, o que não acompanha a escala de produção industrial.
IA e Robótica: A Nova Fronteira da Reciclagem
A Inteligência Artificial tem aberto novas possibilidades para a automação desse processo. Projetos promissores na Alemanha e na Dinamarca utilizam braços robóticos equipados com IA e câmeras para desmontar aparelhos eletrônicos de forma mais eficiente e segura. Esses robôs são treinados para identificar e manipular diferentes componentes, adaptando-se a diversos modelos de aparelhos.
“Agora podemos ensinar os robôs a desmontar vários tipos de aparelhos, e isso ajudaria a fazer a reciclagem ser mais rápida, mais rentável e o aproveitamento de materiais seria bem maior”, afirma o doutor em engenharia José Francisco Saenz, especialista em robótica. A meta é aumentar significativamente o aproveitamento de materiais preciosos como ouro, prata e metais de terras raras, que são descartados em grande quantidade.
Otimizando o Reaproveitamento de Materiais
Uma tonelada de smartphones descartados pode render mais ouro do que o minério bruto. Materiais valiosos como prata, cobalto, lítio, manganês e níquel, encontrados em placas de circuito e baterias, são fontes de cobiça global. Atualmente, o valor do material de um laptop reciclado pela trituração é de cerca de € 10, enquanto um aparelho reformado pode render € 200. A automação promete aumentar drasticamente esse valor.
Percalços e Inovações na Automação
Um dos principais desafios é a variedade de modelos de aparelhos que os robôs precisam aprender a desmontar. A compactação e a colagem de componentes pelos fabricantes dificultam a desmontagem manual e robótica. No entanto, empresas como a Fairphone estão projetando produtos com maior facilidade de reparo e reciclagem.
Grandes players como Apple, com seu robô Daisy, e Microsoft, desenvolvendo um robô para desmontar discos rígidos, também investem em automação para o desmonte de eletrônicos. A ABB, em Parceria com a Molg, desenvolve linhas robóticas para desmontar materiais de data centers.
Pressão Regulatória e Futuro Sustentável
A União Europeia, em particular, tem pressionado a indústria por soluções mais sustentáveis, visando reduzir o envio de lixo eletrônico para outros continentes. A reutilização de aparelhos, com o auxílio de robôs treinados para apagar dados de forma segura, é outra via promissora.
A expectativa é que, com o avanço da tecnologia e a adoção de selos de facilidade de reparo e reciclagem, os Custos dos robôs se tornem mais acessíveis, impulsionando a adoção em larga escala e transformando a reciclagem de lixo eletrônico em uma operação verdadeiramente lucrativa e sustentável.
Fonte: Estadão