O dólar registrou forte alta nesta sexta-feira (10), superando R$ 5,50 e atingindo a maior cotação em mais de um mês. A combinação de receios fiscais no Brasil com novas ameaças de Donald Trump à China desencadeou um movimento global de aversão ao risco, pressionando moedas emergentes e levando as bolsas a recuar. O Ibovespa acompanhou a piora no câmbio, refletindo a redução na exposição de investidores estrangeiros ao mercado local.
Deterioração das Contas Públicas no Radar
A principal preocupação doméstica surgiu com notícias sobre um possível pacote de benefícios para 2026, ano eleitoral, que poderia chegar a R$ 100 bilhões. Segundo informações, as medidas incluiriam isenções e novos programas sociais, sem clareza sobre o financiamento. Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, avalia que o real se tornou a pior moeda entre os emergentes, reacendendo o temor de deterioração das contas públicas.
A incerteza fiscal aumentou após a derrubada da Medida Provisória 1.303, que visava aumentar a arrecadação em até R$ 46 bilhões em dois anos. A perda dessa Receita potencial leva o mercado a temer que o governo recorra a medidas pontuais, como a elevação do IOF, uma possibilidade reforçada pela confirmação do STF de que o Executivo pode aumentar o imposto sem aprovação do Congresso.
Marianna Costa, economista da Mirae Asset, destaca que a incerteza fiscal é o principal vetor, observando que o dólar subiu significativamente mesmo com o DXY estável, indicando desconforto interno. Gustavo Assis, CEO da Asset Bank, complementa que o movimento reflete a combinação de incerteza fiscal e fragilidade de Confiança, resultando no descolamento do real de outras moedas emergentes.
Guerra Comercial e Busca por Segurança Global
No cenário Internacional, as ameaças tarifárias de Donald Trump contra a China reavivaram os temores de uma guerra comercial. Esse cenário foi agravado pelas restrições de Pequim a empresas americanas como Nvidia e Qualcomm. O episódio impactou negativamente os mercados de commodities e de moedas emergentes.
Bruno Shahini explica que as declarações de Trump serviram como um novo gatilho para a saída de recursos estrangeiros do Brasil, com a queda do petróleo e o receio com tarifas reforçando a busca por ativos seguros. Matthew Ryan, head de estratégia de mercado da Ebury, aponta que o cenário global já se apresentava frágil, com o dólar se fortalecendo como refúgio seguro durante o fechamento do governo dos EUA, e a escalada de tensões tende a intensificar a demanda por proteção.
O índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de moedas fortes, manteve-se estável, enquanto o ouro atingiu recordes históricos.
Fuga de Risco e Desvalorização do Real
Na B3, o dólar futuro para novembro avançou 1,5%, enquanto o dólar à vista subiu 2,4%, ultrapassando R$ 5,50. Paulo Monteiro, head da Gravus Capital, explica que essa alta reflete uma fuga de risco e a repatriação de recursos para os EUA, indicando um movimento defensivo dos investidores e não necessariamente uma força intrínseca do dólar. Essa aversão global ao risco soma-se ao receio doméstico de uma possível reversão na trajetória da Taxa Selic, caso a política fiscal comprometa a estabilidade de preços.
Ibovespa Sente o Impacto, com Setores Específicos Tentando Reagir
O Ibovespa, que chegou a apresentar leve alta no início do dia impulsionado por medidas de estímulo ao crédito imobiliário e valorização de commodities metálicas, não sustentou o movimento. Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, observa que, apesar de fatores setoriais positivos, a pressão sobre o câmbio e a exigência de um prêmio maior por investidores estrangeiros para ativos emergentes impedem uma recuperação consistente.
Antonio Patrus, diretor da Bossa Invest, sugere que o momento atual favorece empresas que demonstram inovação, agilidade e orientação para a eficiência, características que permitem adaptação em ciclos de volatilidade.
Fonte: InfoMoney