O número de brasileiros em situação de fome caiu para 6,48 milhões em 2024, representando uma redução de 23,5% em relação ao ano anterior. Essa diminuição, que equivale a dois milhões de pessoas a menos, marca o menor índice de insegurança alimentar grave desde 2004, quando o IBGE iniciou a série histórica.

Os dados são do levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua sobre Segurança Alimentar, divulgado pelo IBGE em Parceria com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. A pesquisa define insegurança alimentar grave como a privação de qualidade e quantidade de alimentos, levando à fome diária nos lares.
Contexto da Insegurança Alimentar
A insegurança alimentar moderada ou grave, segundo a pesquisadora do IBGE, Maria Lúcia Vieira, atingiu seu menor patamar histórico. A situação afetou cerca de 2,5 milhões de famílias. Este é o primeiro indicador oficial sobre insegurança alimentar desde a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017/2018, cobrindo o período da pandemia.
Considerando a insegurança alimentar moderada, caracterizada pela redução da qualidade e quantidade de alimentos entre adultos, o número de afetados caiu para 9,795 milhões em 2024, uma queda em relação aos 11,662 milhões de 2023. No total, 18,9 milhões de famílias ainda convivem com alguma forma de insegurança alimentar, mas essa marca representa 2,2 milhões de lares a menos do que no ano anterior.
A proporção de domicílios com insegurança alimentar caiu de 27,6% para 24,2%, indicando que quase um em cada quatro lares ainda enfrenta dificuldades. Em contrapartida, a segurança alimentar aumentou, passando de 72,4% para 75,8%.
Desigualdades Regionais e Demográficas
As regiões Norte (37,7%) e Nordeste (34,8%) concentram a maior proporção de domicílios em insegurança alimentar. No Norte, o nível mais grave atingiu 6,3% dos lares, enquanto no Nordeste foi de 4,8%. As demais regiões apresentaram índices inferiores: Centro-Oeste (20,5%), Sudeste (19,6%) e Sul (13,5%). O Norte registrou uma taxa quase quatro vezes maior de insegurança alimentar grave em comparação com o Sul, que teve a menor taxa (1,7%).
Em números absolutos, o Nordeste lidera com 7,2 milhões de domicílios afetados, seguido pelo Sudeste (6,6 milhões), Norte (2,2 milhões), Sul (1,6 milhão) e Centro-Oeste (1,3 milhão). Apesar da melhora geral, Roraima, Distrito Federal, Amapá e Tocantins registraram aumento na insegurança alimentar entre 2023 e 2024.
A pesquisa aponta que a insegurança alimentar é mais prevalente em áreas rurais (31,3%) do que urbanas (23,2%). No nível grave, 4,6% dos domicílios rurais foram afetados, contra 3,0% dos urbanos.
Perfil Socioeconômico da Fome
Em lares com insegurança alimentar, a predominância feminina é notável, com 59,9% de mulheres como responsáveis, contra 40,1% de homens. Essa diferença é ainda mais acentuada na insegurança moderada. A desigualdade racial também é expressiva: 54,7% dos responsáveis por domicílios inseguros alimentarmente eram pardos, comparados a 28,5% de brancos e 15,7% de pretos. No cenário de fome extrema, os pardos representavam 56,9%, mais que o dobro dos brancos (24,4%).
O nível de instrução do responsável pelo lar também influencia diretamente. Domicílios inseguros alimentarmente frequentemente tinham responsáveis com ensino fundamental completo ou inferior (51,5%), alcançando 65,7% nos casos graves. Em contraste, 35,1% dos lares com segurança alimentar tinham essa faixa de escolaridade.
A renda per capita é um fator determinante. Dois em cada três domicílios com renda de até um salário mínimo enfrentavam insegurança alimentar. As classes de menor rendimento concentraram 66,1% dos lares inseguros, apesar de representarem apenas 1% do total de domicílios.

Avanços e Reconhecimento Internacional
Os resultados do IBGE corroboram as tendências apontadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). A FAO, agência especializada em alimentação, retirou o Brasil do Mapa da Fome em agosto de 2025. Essa avaliação considera a média de três anos, refletindo a melhora nos indicadores de 2022, 2023 e 2024.
O relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2025” destacou que menos de 2,5% da população brasileira está em risco de subnutrição, confirmando a saída do país da lista de nações com insegurança alimentar grave, na qual havia retornado em 2022.
Fonte: G1