O ministro Luís Roberto Barroso não é o primeiro a antecipar sua Aposentadoria do Supremo Tribunal Federal (STF) logo após ter presidido a Corte. Historicamente, Joaquim Barbosa, Nelson Jobim e Célio Borja também optaram por não permanecer no tribunal após deixarem a liderança, sem intenção de retornar à bancada.
Barroso justificou sua decisão pela busca de uma vida mais tranquila, especialmente considerando os crescentes ataques à Corte e a seus integrantes durante sua gestão. Um fator adicional pode ter sido a impossibilidade de entrar nos EUA devido a uma decisão do governo Trump, que o impediria de visitar seu filho Bernardo, diretor de um banco em Miami. O ministro expressou o desejo de viver o tempo restante sem as responsabilidades do cargo, citando o impacto dos sacrifícios da profissão em seus familiares.
Curiosamente, Barroso já havia defendido previamente um mandato fixo de 12 anos para ministros do STF e manifestado planos de se aposentar após a presidência. Similarmente, Joaquim Barbosa também defendia um tempo determinado para o exercício da função ministerial, o que foi um dos principais motivadores de sua saída antecipada.
O Legado de Joaquim Barbosa e o Mensalão
Joaquim Barbosa se destacou como relator do caso do mensalão, um esquema de compra de votos de parlamentares no primeiro governo Lula. Este julgamento marcou uma Virada significativa para o STF, alterando a percepção pública sobre a Corte e seus membros, que passaram a ter suas vidas mais escrutinadas e a enfrentar maior exposição e até ameaças.
Apesar da intensa exposição e do rigor que lhe rendeu a imagem de juiz inflexível contra a corrupção, Barbosa negou que isso tenha sido o fator determinante para sua Aposentadoria em 2014. Antes de anunciar sua decisão, ele conversou com a então presidente Dilma Rousseff, que demonstrou surpresa. Barroso, por sua vez, comunicou sua intenção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva meses antes de torná-la pública.
Após deixar o Supremo, Barbosa declarou enfaticamente: “Política, de jeito nenhum!”. Contudo, em 2018, filiou-se ao PSB e chegou a considerar uma candidatura à presidência, mas acabou desistindo.
Retornos à Política: Jobim e Borja
Nelson Jobim encerrou sua trajetória no STF em 2006, após concluir seu biênio como presidente do tribunal. Diferentemente de Barbosa, sua saída teve o propósito declarado de retornar à vida política. Ele se filiou ao PMDB e, no ano seguinte, assumiu o Ministério da Defesa no segundo governo Lula.
Celio Borja seguiu um caminho semelhante ao se aposentar em 1º de abril de 1992 e, no dia seguinte, tomar posse como Ministro da Justiça no governo de Fernando Collor.
Barroso e o Futuro: Paz e Fraternidade
Em conversas com interlocutores, Barroso nega planos políticos imediatos. Em seu discurso de despedida da presidência, ele deixou uma mensagem aberta sobre o futuro: “Fora desta bancada, continuarei a trabalhar por um tempo de paz e fraternidade. E reitero a integridade, a civilidade e a empatia vêm antes da ideologia e das escolhas políticas. O radicalismo é inimigo da verdade”.
Em setembro, durante uma festa de despedida organizada por juízes ao deixar a presidência do STF, Barroso cantou o samba “O amanhã”, enfatizando o verso final: “O meu destino será como Deus quiser”, sinalizando uma postura de entrega ao futuro.
Fonte: Estadão