A Bolsa brasileira fechou em leve baixa de 0,31%, aos 141.708,19 pontos, nesta quinta-feira, após um dia volátil influenciado pela derrota do Governo na votação de uma medida provisória (MP) sobre o IOF. O índice variou entre 141.603,17 e 143.212,02 pontos. O volume negociado foi de R$ 18,0 bilhões.

A rejeição da MP, que buscava alternativas à alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e sequer foi submetida à votação, trouxe incertezas ao Mercado. Por um lado, a dificuldade do governo em aprovar medidas de aumento de arrecadação pode ser vista como positiva, limitando gastos em ano eleitoral e reforçando a percepção de um ajuste fiscal futuro. Isso poderia dificultar a reeleição do presidente em 2026.
No entanto, o governo precisa agora encontrar uma nova solução para cobrir o rombo nas contas públicas deixado pela MP rejeitada. Há o receio de que a alternativa seja a alteração das metas fiscais para este e o próximo ano, uma medida que desagrada aos investidores já cautelosos com a saúde fiscal do país.
Contexto Fiscal e Reação do Mercado
Especialistas apontam que a derrubada da MP representa um problema estrutural para as contas públicas, que precisa ser endereçado. A economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, afirma que “há risco de o governo optar por mudar a meta fiscal, tanto deste ano como a do próximo, o que traria efeito muito negativo sobre os preços dos ativos”.
Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, ressalta que o Congresso tem demonstrado resistência a aumentos de impostos, pressionando o governo a cortar gastos. Ele observa que o mercado já precificou parte dessa derrota governamental na sessão anterior.
Bruna Centeno, economista e sócia na Blue3 Investimentos, avalia que a derrota da MP reforça a ideia de que a reeleição do governo em 2026 pode ser mais desafiadora sem Acesso ampliado a gastos, o que pode impulsionar cortes de despesas. Ela destaca que propostas de ampliação de arrecadação do governo têm encontrado resistência.
IPCA e Perspectivas para a Taxa Selic
Em paralelo à questão fiscal, a leitura do IPCA em setembro, considerada relativamente benigna, trouxe um alívio pontual. O índice apresentou uma desaceleração em itens ligados a serviços, o que é visto como um sinal positivo pela influência da política monetária nesse setor. Camilo Cavalcanti, sócio e gestor de portfólio na OBY Capital, sugere que isso pode indicar que a taxa Selic está começando a ter maior efeito na economia.
Marcos Vinícius Oliveira, economista e analista sênior da ZIIN Investimentos, reforça que o resultado de setembro corrobora o processo de desinflação e pode levar o Banco Central a suavizar o discurso sobre a necessidade de manter a Selic elevada por um longo período. Ele pondera que, apesar da cautela necessária, especialmente com serviços e incertezas fiscais, leituras mais brandas reduzem a urgência de um tom restritivo.
Desempenho das Ações e Cenário Internacional
O início de outubro tem sido mais difícil para a Bolsa, com ruídos vindos do lado fiscal impactando os preços dos ativos, segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. Ele também mencionou a realização de lucros no exterior, com os principais índices de Nova York apresentando leves perdas.
As ações de Petrobras (ON -1,35%, PN -1,44%) e Vale ON (-0,15%) fecharam em baixa, seguindo a queda do petróleo no mercado internacional. Em contrapartida, as ações dos maiores bancos, com exceção do Itaú (PN -0,16%), avançaram, com destaque para Santander (Unit +1,32%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, destacaram-se WEG (+4,79%), Auren (+3,47%) e Porto Seguro (+1,73%).
Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, comentou que, apesar de uma abertura positiva impulsionada pela vitória do Congresso na questão dos gastos públicos, a sessão voltou a ter realização, com o mercado focado nas ações do governo para ajustar as contas, especialmente se houver novas tentativas de arrecadação rejeitadas pelo Congresso.
João Paulo Fonseca, head de renda variável da HCI Advisors, acrescentou que foi mais uma derrota para o governo, que contava com as medidas de arrecadação da MP para fechar o Orçamento de 2026. Contudo, os juros futuros apresentaram queda na sessão, auxiliados pelo IPCA mais brando.

Fonte: InfoMoney