CEO da Schneider: ‘Dinheiro não é problema para clima, mas sim escalabilidade’

CEO da Schneider Electric defende que a falta de escalabilidade, e não de dinheiro, impede o financiamento climático no Brasil. Entenda os desafios para a COP-30.
financiamento climático — foto ilustrativa financiamento climático — foto ilustrativa

Para Rafael Segrera, CEO da Schneider Electric para a América do Sul, o principal obstáculo para o financiamento de soluções climáticas no Brasil não reside na escassez de recursos, mas sim na ausência de condições que assegurem a escalabilidade dessas iniciativas. Este tema é central nas discussões da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), que será sediada no país em novembro.

A percepção de Segrera baseia-se em experiências recentes durante a Semana do Clima nos Estados Unidos. Ele observou que conversas com representantes do mercado financeiro revelaram um consenso: há capital disponível, mas as condições de retorno precisam ser mais claras para que os investimentos sejam efetivados. “O problema não é o dinheiro. Há dinheiro. Mas o dinheiro vai onde as condições estão dadas. O País tem de dar as condições, e o dinheiro vai aonde se sabe que pode haver um retorno. Uma parte chave deste retorno é a possibilidade de escalar”, explicou.

O executivo compartilhou essa visão durante o 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em São Paulo. Ele participou do painel “Qual o papel do setor privado e conselhos nas COPs e no cumprimento das metas climáticas do Brasil?”, mediado pela presidente do IBGC, Valéria Café.

Painel sobre finanças climáticas e COP-30 com CEO da Schneider Electric
Rafael Segrera, CEO da Schneider Electric para a América do Sul, destacou a importância da escalabilidade para o financiamento climático.

Iniciativas para a COP-30 e o Papel do Setor Privado

Segrera lidera o grupo de trabalho “Green Jobs and Skills” na “Sustainable Business COP-30”, uma iniciativa global que visa fortalecer a participação do setor privado nas negociações e ações climáticas da COP-30. Lançado em 2024, o movimento é institucionalmente apoiado no Brasil pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O executivo aceitou o desafio de liderar a iniciativa, citando a dificuldade que muitos executivos enfrentam em encontrar profissionais capacitados para adaptar e implementar novas tecnologias. “Os governos têm de fazer sua parte, (mas as) empresas têm de atrair (capital) e têm de ter exemplos concretos que possam ser escaláveis também”, disse. “Se queremos acelerar essa transição, se vemos que ela é uma oportunidade de negócio, (as empresas) têm de atacar todos esses gargalos”.

Ele ressaltou que o setor privado é um pilar fundamental nas negociações e compromissos assumidos nas COPs, tanto por ser um grande emissor de dióxido de carbono quanto por deter o conhecimento Técnico para mitigar esses impactos. A participação ativa e integrada do setor é crucial.

“Nós temos evoluído muito em como abordar esse tema das mudanças climáticas e sair da tragédia para uma grande oportunidade: oportunidade para os negócios, mas também para as pessoas. Então, o papel (do setor privado) é fundamental. Tem que ser ativo, se agrupar bem e ser fornecedor de soluções”, afirmou Segrera. “O setor privado é conhecido por sua capacidade de execução, de passar do planejamento para a ação, no tempo concreto, com medições concretas e esperando resultados concretos.”

Desafios para a Integração Clima-Negócios no Brasil

Para impulsionar o engajamento do setor privado nas pautas climáticas, o Brasil precisa superar alguns entraves. Dados de uma pesquisa recente do IBGC, com foco em conselheiros corporativos, indicam que, embora 56% dos entrevistados já integrem o clima à estratégia central, 60% relatam que metas climáticas ainda não estão atreladas de forma significativa à remuneração variável. Adicionalmente, 42% apontam dificuldades na mensuração das emissões de escopo 3, e outros 42% indicam que seus conselhos ainda não discutiram planos de divulgação segundo os padrões internacionais IFRS S1 S2.

Segrera considera o cenário preocupante, contrastando com a abordagem da Schneider Electric, onde a pauta climática já está integrada aos negócios. “Creio que a maioria das empresas quer implementar (o elo entre clima e negócios), (mas) tem problema de conhecimento, de provavelmente achar que integrar tudo isso vai ser um peso econômico e que depois não terá um retorno. (Mas a primeira coisa) é saber que, hoje, ninguém não há opção, temos de adotar isso. O mais importante é tomar isso como uma oportunidade para o negócio. Esse mindset (mentalidade) é importante, pois se a liderança não vê isso como uma grande oportunidade e sim como um problema, vai perder muita coisa”, concluiu o executivo.

Fonte: Estadão

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