A Tupy, gigante na fabricação de componentes estruturais para a indústria automotiva, anunciou um ambicioso plano de readequação de suas cinco plantas industriais globais. O objetivo é aumentar a competitividade e impulsionar o crescimento com novos negócios focados na economia verde, segundo Rafael Lucchesi, CEO da empresa.
Com unidades no Brasil, México e Portugal, a Tupy pretende fechar linhas de produção obsoletas e menos tecnológicas. A projeção é de ganhos financeiros significativos: R$ 100 milhões em 2026 e R$ 180 milhões anualmente a partir de 2027, com uma redução de 25% na capacidade produtiva geral. A meta é atender à demanda de forma mais eficiente e viabilizar novos projetos.
Readequação Industrial e Foco em Eficiência
A estratégia visa otimizar a eficiência operacional e a geração de retorno sobre o capital investido. Embora o ajuste implique redução de capacidade, a empresa assegura que não há, no momento, mudanças significativas em seu quadro de pessoal.
A Tupy aposta em uma indústria de menor emissão de carbono, com motores 20% a 30% mais potentes e processos de fabricação mais limpos. “A empresa está passando por uma tempestade”, admitiu Lucchesi, indicando os desafios atuais, mas também a resiliência da companhia.
Diversificação para a Economia Verde
Além do tradicional segmento de blocos e cabeçotes, a Tupy está expandindo sua atuação em:
- Montagem de motores: via aquisição da MWM, fabricante de motores e geradores de energia.
- Distribuição de peças: com uma ampla rede de vendas e assistência técnica.
- Energia e Descarbonização: uma nova e promissora área focada em soluções sustentáveis.
Novos Negócios em Energia e Descarbonização
A área de energia e descarbonização é vista como um motor de crescimento futuro. Ela engloba a fabricação de geradores de energia e motobombas, com potencial de expansão para América Latina e África, e o desenvolvimento de plantas de produção de biometano e fertilizante organomineral. Este último, derivado de dejetos animais, tem potencial para dobrar o tamanho da empresa.
Atualmente, três bioplantas estão em fase piloto. Uma Parceria com a cooperativa Primato em Toledo (PR) já produz fertilizantes a partir de dejetos suínos. Outro projeto em Divinópolis (MG) processará resíduos de aves para geração de energia e fertilizantes. Um terceiro acordo com a Seara (JBS) em Santa Catarina focará em resíduos de suínos e aves para produzir fertilizante, biometano e CO₂. Essas iniciativas visam reduzir a pegada de carbono das empresas envolvidas.
Mercado de Data Centers e Motores de Grande Porte
A Tupy/MWM avalia o desenvolvimento de motores de grande porte para atender novos mercados, como data centers e grandes embarcações marítimas. O objetivo é suprir a demanda por motores de até 120 litros, complementando a linha atual que vai de quatro a sete litros.
Parcerias globais estão sendo negociadas, com anúncios previstos para o fim do ano. Dois novos projetos estratégicos anunciados em agosto, com Receita anual estimada de R$ 97 milhões, já reforçam a atuação em transporte de cargas (locomotivas) e geração de energia para data centers, fornecendo cabeçotes para grupos geradores.
A MWM também explora parcerias em motores a biocombustível, como etanol em tratores agrícolas, substituindo o diesel. Com os contratos firmados, a receita adicional esperada pode alcançar R$ 1,4 bilhão por ano até 2028.
Impacto das Tarifas dos EUA e Cenário Financeiro
A Tupy busca alternativas para mitigar o impacto da tarifa de 50% sobre exportações para os Estados Unidos, que representam uma fatia significativa de suas vendas. A empresa utiliza estratégias logísticas, como a exportação via México e Europa, para contornar as novas taxas impostas pelo Governo de Donald Trump.
As exportações brasileiras para os EUA respondiam por 23% das vendas externas da Tupy. As fábricas mexicanas destinavam 48% da produção diretamente ao Mercado americano. A incerteza tarifária pode impactar os negócios a partir de 2026.
O ano de 2024 deve fechar com queda de um dígito na receita, afetado pela retração do mercado de veículos comerciais nos EUA e Europa. No segundo trimestre, a receita líquida recuou 6% para R$ 2,6 bilhões, com queda de 10% nos volumes físicos. Em contrapartida, as operações da MWM apresentaram crescimento de 12%.
A Tupy, fundada em 1938 e com receita anual de cerca de R$ 11 bilhões, conta com BNDESPar e Previ como principais acionistas. A empresa projeta avançar em 2026 com a melhoria prevista a partir do segundo trimestre, impulsionada tanto pelo negócio tradicional quanto pelas novas iniciativas.
Fonte: Estadão