A iniciativa de união entre governadores de direita, que buscava formar um bloco contra o governo Lula (PT) e com Críticas ao STF, perdeu força. Inicialmente prevista para encontros periódicos, a articulação esfriou devido a divisões internas, desconfiança do clã Bolsonaro e a incerteza sobre a indicação de um sucessor para 2026.




Nesse período, o presidente Lula tem recuperado popularidade e melhorado sua relação com o Congresso. Paralelamente, manifestações de esquerda contra a anistia a Jair Bolsonaro e a PEC da Blindagem ganharam destaque, em um cenário político que mudou rapidamente desde as eleições de 2022.
As disputas internas na direita também contribuíram para o desânimo. Um exemplo recente foi a troca de ataques entre o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o senador Ciro Nogueira (PP), expondo rachas significativos no segmento.
O Contexto da Articulação Inicial
A primeira reunião dos governadores, que visava uma articulação conjunta, ocorreu em 7 de agosto. O encontro aconteceu logo após a Prisão domiciliar de Jair Bolsonaro e antes de sua condenação pelo STF. A expectativa era de que presidentes de partidos de centro e direita se juntassem em breve, o que não se concretizou.
Participantes atribuem o esfriamento a diversos fatores. A incerteza de Bolsonaro sobre seu futuro político é um dos principais. Outras pautas que dominaram o noticiário, como a anistia para os condenados nos ataques golpistas, a PEC da Blindagem e a ampliação da isenção do Imposto de Renda (IR), também desviaram o foco.
Um fator adicional apontado é a aproximação de Donald Trump com Lula, que teria diminuído a pressão sobre o presidente brasileiro e desmotivado parte da oposição. A associação do “tarifaço” ao Brasil com Eduardo Bolsonaro também gerou desconforto.
As críticas ao STF, que eram centrais no encontro pré-julgamento da trama golpista, foram gradualmente substituídas por essas outras discussões políticas urgentes.
Disputas e Potenciais Candidaturas
No encontro inicial, na residência do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), estavam presentes quatro nomes com potencial para a candidatura presidencial: Caiado, Ratinho Jr (PSD) do Paraná, Tarcísio de Freitas (Republicanos) de São Paulo e Romeu Zema (Novo) de Minas Gerais. Na época, Tarcísio de Freitas era considerado o nome mais forte para herdar o eleitorado de Bolsonaro, embora nunca tenha confirmado publicamente essa aspiração.
Um jantar da federação União Progressista, em 20 de agosto, contou com a presença de Zema e Caiado, onde Tarcísio defendeu seu padrinho político e o projeto de lei da anistia. A organização deste jantar, no entanto, coincidiu com a perda de controle governista sobre a CPI mista do INSS.
Nas semanas seguintes, Tarcísio diminuiu sua ofensiva presidencial após resistência dos filhos de Bolsonaro. Paralelamente, Ratinho Jr (PSD) ganhou projeção como um plano B, buscando conexões com políticos e empresários paulistas para se viabilizar como alternativa.
Romeu Zema, por sua vez, reuniu-se com Tarcísio em São Paulo e com Caiado em Belo Horizonte. O governador mineiro demonstra confiança em sua candidatura, seja como representante da direita ou como nome independente.
A Declaração de Caiado e a Falta de Senso
Em declaração à imprensa, Caiado defendeu a ideia de que múltiplos nomes da direita concorram à Presidência em 2026. Ele argumenta que um único candidato enfrentando Lula seria “esmagado” por uma “máquina de triturar” que ninguém suportaria.
Embora os pré-candidatos tenham evitado críticas diretas uns aos outros, as trocas de farpas internas complicaram a visão de unificação. Caiado criticou Ciro Nogueira após ser preterido na lista de presidenciáveis apoiados por Bolsonaro. As siglas de ambos, PP e União Brasil, que formalizaram uma federação em agosto, anunciaram o desembarque do governo Lula no mês seguinte.
O presidente do PP mencionou Tarcísio e Ratinho Jr como opções presidenciais em entrevista ao jornal O Globo. Caiado considerou a fala desrespeitosa e relembrou a ligação de Ciro Nogueira com o PT em seu passado político.
Zema tentou apaziguar os ânimos, declarando que seus “adversários são Lula e o PT” e que “é com eles que a direita deve brigar”.
A falta de avanço no estreitamento das candidaturas e a interferência da família Bolsonaro se tornaram fatores de instabilidade. Carlos e Eduardo Bolsonaro têm criticado a busca por um sucessor para o ex-presidente, que já está inelegível e agora condenado a 27 anos e três meses de prisão.
Eduardo Bolsonaro, que reside nos Estados Unidos e foi denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, por articulação para intervir em processos do ex-presidente, tem se posicionado como uma alternativa para 2026. Ele questiona por que ele seria tratado de forma diferente de outros pré-candidatos como Ratinho, Caiado e Zema, sugerindo que a exclusão dos Bolsonaros que se dispõem a concorrer seria uma “maldade da caneta prender”.
Ciro Nogueira conversou com Eduardo Bolsonaro no final de agosto, pedindo que ele concentrasse sua artilharia contra a esquerda. Nogueira é um dos principais defensores de uma união mais concreta do grupo político e recentemente afirmou que a direita tem “falta de bom senso” e deve se unir para não perder eleições.
Fonte: Folha de S.Paulo