O ouro ultrapassou os US$ 4.000 por onça pela primeira vez no final de segunda-feira (6) e novamente na manhã de terça-feira (7), estendendo uma alta que elevou os preços em quase 50% desde o início do ano. Investidores institucionais, bancos centrais e indivíduos têm adquirido o ativo de ‘Porto seguro’, alimentando uma tendência de alta nos preços que normalmente sinaliza incerteza econômica. A mais recente sequência de recordes do ouro coincide com a paralisação do governo dos Estados Unidos, que começou em 1º de outubro.

Mas a valorização em 2025 está enraizada nas tensões contínuas de política comercial e geopolíticas, ganhando força em abril quando as tarifas do ‘Dia da Libertação’ do presidente Donald Trump abalaram os mercados. Os preços saltaram novamente em agosto e setembro, quando o mercado de trabalho dos EUA mostrou sinais de desaceleração.
‘O impulso do ouro tem sido implacável’, disse Adam Turnquist, estrategista Técnico-chefe da LPL Financial, em nota aos investidores, acrescentando que houve cerca de três dias de ‘alta’ para o ouro para cada dia de queda desde meados de agosto.
Grande parte do aumento recente de preço é impulsionada por bancos centrais que buscam diversificar suas reservas, bem como investidores que ‘definitivamente estão olhando para o ouro como uma alternativa ao dólar americano’, disse Joe Cavatoni, estrategista-chefe de mercado do World Gold Council. No ano encerrado em 31 de agosto, o banco central da Polônia comprou mais de 60 toneladas métricas de ouro. Os bancos centrais do Azerbaijão, Cazaquistão, China e Turquia também fizeram compras significativas.
Até agora, 2025 tem sido o melhor ano para os preços do ouro desde 1979, quando o dólar perdeu valor e as economias globais foram afetadas por uma crise do petróleo. Em entrevista à Bloomberg, o CEO da Citadel, Ken Griffin, disse que achava ‘realmente preocupante’ a ideia de investidores começarem a ver o ouro como um ativo mais seguro que o dólar. ‘Estamos vendo uma inflação substancial de ativos longe do dólar, à medida que as pessoas procuram maneiras de efetivamente desdolarizar ou reduzir o risco de suas carteiras em relação ao risco soberano dos EUA’, disse ele.
Os bancos têm influenciado a elevação dos preços, porque têm recursos abundantes e são menos sensíveis aos preços, o que significa que continuarão comprando mesmo quando o ouro fica mais caro. ‘Nunca é o preço que determina se um banco central vai se envolver no mercado; é a sua própria política específica’, disse Bob Gottlieb, ex-negociador de metais em importantes instituições financeiras.
Ao meio-dia desta terça (7), o dólar americano havia caído cerca de 9% desde o início do ano, conforme medido pelo DXY, que compara o dólar com uma cesta de moedas estrangeiras. Outros eventos geopolíticos também aumentaram a incerteza nos mercados, segundo analistas.

Na França, o primeiro-ministro Sébastien Lecornu renunciou nesta segunda (6) após menos de um mês no cargo em meio a uma crise orçamentária, fazendo cair os preços das ações e títulos. Os mercados globais também foram abalados pela eleição da líder conservadora linha-dura Sanae Takaichi no Japão, provocando uma venda massiva no mercado de títulos.
O ouro também se beneficiou de um aumento de interesse dos investidores de varejo, que podem comprar barras de ouro de uma onça do Costco desde 2023. Uma seleção de fundos negociados em bolsa que são fisicamente lastreados em ouro atraiu cerca de US$ 26 bilhões no período de três meses encerrado em 30 de setembro, de acordo com um relatório do World Gold Council. O trimestre recorde foi impulsionado por novos investimentos da América do Norte e Europa.
A corrida para o ouro reflete parcialmente a influência dos aplicativos de negociação, que permitem que as pessoas invistam pequenas somas de dinheiro em ouro, disse Wayne Wicker, presidente da empresa de investimentos Opal Capital. ‘No mercado atual, existem tantos ETFs que permitem fácil acesso ao ouro, que fazer um investimento é muito mais fácil do que era durante os mercados de alta do passado’, disse Wicker.
Ações de Mineração e Recomendações de Investimento
As ações de mineração também subiram ao longo do ano. A Newmont, empresa sediada nos EUA com minas de ouro em vários países, disparou 130% desde o início do ano. As canadenses Agnico Eagle Mines e Barrick Mining viram seus preços de ações mais do que dobrar no mesmo período.
Alguns gestores de fundos de hedge líderes —incluindo o CEO da DoubleLine Capital, Jeffrey Gundlach, e o fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio— recentemente recomendaram que os investidores aumentem sua exposição ao ouro. Dalio sugeriu que os investidores usem o ouro como uma forma de diversificar carteiras. ‘Se você olhar apenas de uma perspectiva de alocação estratégica de ativos, você provavelmente teria algo como 15% de sua carteira em ouro… porque é um ativo que se sai muito bem quando as partes típicas da carteira caem’, disse Dalio no Greenwich Economic Forum em Connecticut.
Riscos e Volatilidade do Ouro
Mas outros observadores dizem que o ouro pode estar a caminho de uma correção ou queda à medida que a pressão econômica diminui a demanda pelo metal, que é usado tanto para fins industriais quanto para joalheria. E a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities alertou os consumidores para serem cautelosos com o ouro, dada sua volatilidade. Wicker destacou que o desempenho do ouro tem sido inconsistente ao longo dos anos, o que significa que ele traz riscos para aqueles que o utilizam como ferramenta de diversificação. ‘Eu resistiria à tentação de manter mais do que uma exposição modesta, já que não fornece nenhuma renda para proteger contra a volatilidade de baixa que vimos anteriormente’, disse Wicker.
Fonte: Folha de S.Paulo