A energia renovável ultrapassou o carvão como a principal fonte de eletricidade no mundo no primeiro semestre deste ano, marcando um feito histórico. Dados recentes do think tank global de energia Ember revelam que o avanço das fontes limpas supriu 100% do aumento da demanda global por eletricidade, contribuindo para uma leve redução no uso de carvão e gás.

Embora a China lidere o crescimento da energia limpa, adicionando mais capacidade solar e eólica que o restante do mundo combinado, o panorama global é misto. Países em desenvolvimento impulsionam a transição, enquanto nações ricas como os Estados Unidos e a União Europeia registraram aumento na dependência de combustíveis fósseis para suprir a demanda crescente de eletricidade.
O Domínio da Energia Limpa
A China continua na vanguarda da expansão de energia limpa. O país asiático adicionou mais capacidade solar e eólica do que o resto do mundo somado, permitindo que o crescimento da geração renovável superasse a demanda crescente por eletricidade e reduzisse a geração a partir de combustíveis fósseis em 2%. A Índia também apresentou um crescimento mais lento na demanda por eletricidade, mas com adição significativa de capacidade solar e eólica, o que permitiu ao país diminuir o uso de carvão e gás.

Diferenças Regionais na Transição Energética
Em contraste com o avanço na Ásia, nações desenvolvidas como os EUA e a União Europeia registraram a tendência oposta. Nos EUA, o aumento da demanda por eletricidade superou a produção de energia limpa, elevando a dependência de combustíveis fósseis. Na UE, um desempenho fraco de energia eólica e hidrelétrica levou a um aumento na geração a partir de carvão e gás.
Um Ponto de Virada Crucial para o Futuro
Apesar dessas disparidades regionais, o momento é considerado um “ponto de virada crucial” pela analista sênior do Ember, Malgorzata Wiatros-Motyka. Ela afirma que isso “marca o início de uma mudança em que a energia limpa está acompanhando o crescimento da demanda”. A energia solar foi a principal responsável pelo crescimento, atendendo a 83% do aumento da demanda por eletricidade global e se consolidando como a maior fonte de nova eletricidade mundial há três anos consecutivos.
A maior parte da geração solar, cerca de 58%, ocorre em países de baixa renda. Isso é impulsionado por reduções drásticas nos custos, com os preços da energia solar caindo 99,9% desde 1975. Grandes mercados solares têm surgido rapidamente em países onde a eletricidade da rede é cara e pouco confiável. O Paquistão, por exemplo, importou painéis solares capazes de gerar 17 gigawatts (GW) de energia solar em 2024, o dobro do ano anterior. A África também vive um boom solar, com importações de painéis crescendo 60% no período até junho, liderado pela África do Sul.
Desafios e Oportunidades da Energia Solar e Eólica
O rápido crescimento da energia solar, contudo, tem gerado desafios inesperados em algumas regiões. No Afeganistão, o uso de bombas de água movidas a energia solar tem reduzido o nível do lençol freático, ameaçando o acesso à água subterrânea em longo prazo.
Adair Turner, presidente da Energy Transitions Commission, aponta que países da “faixa solar” (Ásia, África, América Latina) precisam de eletricidade para ar condicionado durante o dia e podem reduzir custos com energia solar e baterias. Já os países da “faixa eólica” (como o Reino Unido) enfrentam obstáculos maiores. Os custos das turbinas eólicas não caíram tanto quanto os dos painéis solares, e taxas de juros mais altas aumentam os custos de empréstimos. Equilibrar a oferta é mais difícil, pois períodos de vento fraco no inverno exigem fontes de energia de reserva que apenas baterias não conseguem fornecer.
No cenário global, o domínio da China nas indústrias de tecnologia limpa permanece inquestionável. Em agosto de 2025, suas exportações de tecnologia limpa atingiram um Recorde de US$ 20 bilhões, impulsionadas pelo aumento nas vendas de veículos elétricos (26%) e baterias (23%).
Fonte: G1