O Brasil tem atraído o interesse de investidores estrangeiros em um ritmo superior à média mundial. O Investimento Direto Estrangeiro (IDE) em novos projetos produtivos no país registrou um aumento de 67% entre 2022 e maio de 2025, superando o crescimento global de 24% no mesmo período. Este desempenho ocorre apesar do cenário de fragmentação política e aumento de barreiras tarifárias internacionais.

Mudança na Geografia dos Investimentos
Enquanto economias desenvolvidas, como os Estados Unidos, viram um aumento nos aportes entre si, a China observou uma diminuição nos fluxos para seu território, concentrando-se em expandir seus investimentos para Europa, América Latina e Oriente Médio. Países emergentes, em contraste, atraíram promessas de investimentos de diversas origens geopolíticas.
“Observa-se uma mudança relevante na geografia desses investimentos: eles estão sendo direcionados a distâncias geográficas maiores, mas a distâncias geopolíticas menores”
Brasil como Ativo Geopolítico Neutro
O Brasil se destaca por sua neutralidade geopolítica, um diferencial importante em tempos de instabilidade global. Segundo Nelson Ferreira, sócio sênior da McKinsey, a tendência é uma diversificação na origem dos investimentos, com novos fluxos chegando da Ásia e do Oriente Médio, além dos parceiros tradicionais europeus. Ele também aponta o potencial de empresas brasileiras expandirem sua capacidade produtiva para mercados em crescimento, como Índia e Sudeste Asiático.
Entre 2022 e maio de 2025, o IDE anual destinado ao Brasil totalizou US$ 37 bilhões, com a Europa contribuindo com cerca de 50% e os Estados Unidos com aproximadamente 15%. Por outro lado, os fluxos de IDE anunciados por companhias brasileiras apresentaram uma queda de 19%, passando de US$ 2,9 bilhões (2015-2019) para US$ 3,2 bilhões (2022-2025).
Os dados da consultoria focam em investimentos greenfield, que envolvem novos projetos produtivos e formação bruta de capital, excluindo fusões, aquisições e reinvestimentos de lucros. O cenário global também demonstra um padrão de meganegócios em IDE, com transações acima de US$ 1 bilhão representando metade do valor total, apesar de somarem apenas 1% do número de negócios.
Energia Lidera Atratividade de Investimentos
O setor de energia tem sido o principal atrativo para o IDE no Brasil, respondendo por 46% dos anúncios desde 2022. Este crescimento é impulsionado por contratos de grande porte, incluindo projetos de hidrogênio verde no Ceará e de petróleo e gás na Bacia de Campos.

Ferreira ressalta que a combinação de vantagens naturais, como energia renovável e forte base agrícola, aliada a uma maior neutralidade geopolítica e um grande mercado interno, posiciona o país como um destino prioritário para projetos em energia e commodities. A estabilidade institucional também é um fator crucial.
Desafios para Novos Ciclos de Investimento
Para sustentar e ampliar a atração de investimentos diretos, o Brasil precisa de condições macroeconômicas mais estáveis e um novo ciclo de investimento industrial. Juros altos e custo de capital ainda representam limitações para projetos em manufatura avançada, e a competitividade industrial tem se deteriorado. Segundo Ferreira, a modernização industrial com base em novas tecnologias como digitalização, automação e IA é fundamental para ganhos de competitividade em indústrias estratégicas.
Fonte: InfoMoney