A taxa básica de juros no Brasil deve permanecer em 15% ao ano, com projeções indicando uma possível queda apenas a partir de março de 2026. Essa perspectiva foi apresentada pelo economista-chefe da XP, Caio Megale, ao analisar o cenário econômico e político do país. A combinação de juros elevados por um período prolongado e as incertezas geradas pelo cenário eleitoral tendem a manter o Brasil em um estado de espera.
“O ano que vem está particularmente binário”, destacou Megale, sugerindo que as definições políticas podem reconfigurar significativamente as expectativas econômicas. Ele observou que, apesar das tensões internas, o ambiente global encerrou o ano de 2025 de forma mais positiva do que o esperado inicialmente. “Começou parecendo que ia ser um caos – tarifas, recessão, guerra, estagflação – e estamos encerrando com a Bolsa nas máximas e um sentimento otimista”, disse.
O economista ressaltou o movimento de “risk on” nos mercados emergentes, impulsionado por uma visão mais otimista sobre a economia mundial. No entanto, ele alertou para um risco relevante: o quadro fiscal dos Estados Unidos. O ponto de maior atenção, segundo ele, é a nomeação do próximo presidente do Fed.
Cenário Eleitoral e Incertezas Econômicas
As declarações de Megale foram feitas durante o XP Credit Coverage, evento que reuniu economistas e analistas políticos para discutir os rumos da economia e as perspectivas para as eleições de 2026. Paulo Gama, head de análise política da XP, reforçou que o quadro político permanece indefinido e que as pesquisas de popularidade serão cruciais para delinear o cenário futuro. “As candidaturas de oposição ainda precisam se consolidar. A partir daí, teremos uma visão mais clara dos caminhos possíveis”, afirmou.
Mercado de Crédito e Diversificação
Em outro painel do evento, “Crédito 360º”, especialistas abordaram a expansão do crédito privado e a importância da diversificação de investimentos, especialmente diante de recentes casos de recuperação judicial. “É preciso olhar caso a caso. Nos dados até abril, as micro e pequenas empresas lideram os pedidos de Recuperação Judicial”, observou Mayara Rodrigues, analista de renda fixa na XP. Carol Freitas, RM de fundos, complementou que “o crédito nunca foi tão relevante na carteira do cliente como é hoje”, sinalizando o amadurecimento do investidor brasileiro.
Apesar da cautela, as especialistas identificam oportunidades no setor. Espera-se que os spreads se ajustem gradualmente, abrindo espaço para alocações em crédito high yield e debêntures incentivadas, que apresentaram forte retomada no segundo semestre. Estratégias de destaque incluem o crédito high grade, o high yield e o crédito de liquidez, ganhando força com o momento atual do Mercado. As debêntures incentivadas também voltaram ao radar dos investidores, impulsionadas por mudanças regulatórias e incertezas setoriais.
Setores em Foco: Transportes e Petróleo
O último painel do evento analisou oportunidades setoriais em crédito corporativo. Pedro Bruno, head de transportes e infraestrutura da XP, destacou o otimismo com a Simpar (SIMH3), cuja recomendação de compra foi reiterada, com preço-alvo de R$ 8,00 por ação até 2026. A empresa busca reduzir o endividamento através de Disciplina de preços, corte de custos e desinvestimentos.
Regis Cardoso, head de óleo, gás e petroquímicos, manteve uma visão positiva para o setor de óleo e gás, projetando o Brent entre US$ 65 e US$ 70 por barril. Ele destacou a Virada da Brava (BRAV3), com geração positiva de caixa, e o momento desafiador da Braskem, que registrou prejuízo líquido de R$ 267 milhões no segundo trimestre. “Estamos em um ciclo de baixa longo e profundo nos petroquímicos. Há uma chance razoável de capitalização para preservar a indústria”, afirmou.
Os especialistas reforçam a importância de adequar a estratégia ao perfil do investidor, prazo e tamanho da alocação ao investir em crédito privado. A XP recomenda evitar exposição superior a 5% em um único emissor, especialmente em papéis de maior risco. Títulos como CRIs, CRAs e debêntures não contam com cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Fonte: InfoMoney