Selic Inalterada em 15%: Campos Neto Defende BC, Haddad Critica Juros

Selic se mantém em 15% ao ano. Decisão do Copom gera debates entre Roberto Campos Neto (defende BC) e Fernando Haddad (critica juros altos). Entenda a polêmica.
Selic 15% — foto ilustrativa Selic 15% — foto ilustrativa

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu manter a taxa básica de juros da economia em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas. Esta foi a terceira vez consecutiva que o Copom optou por não alterar a Selic, principal ferramenta do BC para combater a inflação e seus efeitos sobre a população mais vulnerável.

A decisão foi unânime entre os membros do Copom. Vale ressaltar que a maioria dos integrantes, incluindo o atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, foi indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido por suas Críticas a juros elevados. Com a autonomia do Banco Central, estabelecida por lei, o presidente e os diretores possuem mandatos fixos e não podem ser demitidos pelo presidente da República.

Como é comum no cenário político-econômico brasileiro, decisões sobre a taxa de juros frequentemente geram manifestações e debates entre autoridades governamentais e o Mercado financeiro. Nesta semana, o embate de opiniões precedeu a formalização da decisão do Copom, dada a expectativa generalizada de que a taxa permaneceria em 15%.

Campos Neto Elogia a Gestão Atual do BC

Em meio a críticas vindas de figuras proeminentes como o presidente Lula e a ministra Gleisi Hoffmann, o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, defendeu publicamente a atual Diretoria da instituição, liderada por Gabriel Galípolo. Campos Neto, que permaneceu no cargo até o final do ano passado, declarou em um evento em Londres que não faria ressalvas ao trabalho da gestão atual.

“Se eu estivesse no Banco Central, eu estaria fazendo exatamente a mesma coisa que o Gabriel [Galípolo] está fazendo, que a equipe está fazendo. Não tenho nenhum reparo a fazer ao trabalho deles. Tem momentos de maior pressão, tem momentos de menos pressão. Mas quando a gente olha hoje, o problema brasileiro não é um problema monetário, é um problema muito mais um problema fiscal [alta de gastos públicos], como já está refletido nos debates do dia a dia”, afirmou Campos Neto. Ele também sugeriu que existe uma “narrativa política” em torno do nível dos juros no Brasil.

Campos Neto destacou que a queda dos juros depende de outros fatores, além da política monetária. “A queda de juros depende de outros ingredientes. Se fosse uma decisão única do presidente do Banco Central, ou da Diretoria colegiada, é óbvio que a gente teria juros muito mais baixos. No Banco Central, quando você cai os juros, precisa que a queda de juros se propague pela curva [de juros, que serve de base para o mercado financeiro]. Para que isso aconteça, você precisa de credibilidade. E essa credibilidade vem hoje muito mais do fiscal [desempenho das contas públicas] do que do monetário [decisões do BC]”, complementou.

O próprio Banco Central tem sinalizado em seus relatórios que a percepção de sustentabilidade das contas públicas tem influenciado as pressões inflacionárias e, consequentemente, a taxa de juros.

Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central do Brasil, discursando no Senado.
Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central do Brasil, defendeu a atual gestão da instituição.

Haddad Sugere Redução da Selic

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, expressou sua opinião sobre a taxa de juros um dia antes da decisão do Copom. Em um evento da Bloomberg em São Paulo, Haddad defendeu um corte na taxa Selic, argumentando que o nível atual de juros reais não se sustenta diante da inflação.

“Por mais pressão que os bancos façam sobre o Banco Central para não baixar juros, eles vão ter que cair. Não tem como sustentar 10% de juro real [descontada a inflação projetada para o futuro] com a inflação batendo a 4,5%. Vai sustentar um juro de 15% [ao ano]? Em nome do que? Eu não sei quando, eu não sou diretor do Banco Central. Se eu fosse diretor, votava pela queda [nesta semana], porque não sustenta, 10% de juro real não faz sentido”, declarou Haddad.

O ministro, que tem negado intenções de candidatura em 2026, ressaltou a necessidade de “razoabilidade” por parte do BC. “A dose do remédio [juros] para se transformar em veneno é muito pouca diferença entre uma coisa e outra. Podemos entrar bem em 2026, terminar o mandato com indicadores muito superiores. Podemos controlar a dívida pagando menos juros. Não precisamos pagar esse juro todo, que tem impacto sobre a inflação, começa a impactar a capacidade de produção de um país, começa a ter problema. Expectativa tem muito de torcida também”, concluiu.

Fernando Haddad, ministro da Fazenda, em evento em São Paulo.
Fernando Haddad defendeu um corte na taxa Selic antes da decisão do Copom.

Críticas de Gleisi Hoffmann e Histórico de Lula

A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, embora tenha mantido suas críticas aos juros altos, apresentou um tom menos incisivo nesta semana. Ela afirmou que a decisão do Copom de manter a Selic em 15% prejudica investimentos produtivos, o acesso ao crédito, a geração de empregos e o equilíbrio das contas públicas.

“É prejudicial ao Brasil. Nenhuma economia do mundo pode conviver com um juro real de 10%. Nada justifica uma decisão tão descasada da realidade, dos indicadores econômicos, das necessidades do país”, declarou Hoffmann.

Em ocasiões anteriores, Gleisi Hoffmann foi mais veemente em suas críticas, chegando a comparar os juros altos a “genocídio” e “sabotagem à economia”. Ela também acusou o BC, em gestões anteriores, de “sequestro da política econômica do governo”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que no passado teceu críticas severas ao ex-presidente do BC, Roberto Campos Neto, não comentou a decisão mais recente do Copom. Relembrando suas falas anteriores, Lula demonstrou confiança na autonomia de Gabriel Galípolo, mas também expressou expectativas de que os juros fossem reduzidos.

Ao indicar Galípolo para o cargo, Lula o descreveu como “uma pessoa competentíssima, um brasileiro que gosta do Brasil” e garantiu sua autonomia. Ele chegou a afirmar que, se Galípolo decidisse aumentar os juros, seria aceitável. No entanto, em outros momentos, Lula minimizou a demora na queda dos juros, comparando a situação a um “cavalo de pau num mar revolto”, e atribuiu parte do cenário de juros altos a decisões anteriores de Campos Neto, chamando-as de “arapuca”. Lula também expressou acreditar que o cenário de juros seria “corrigido com o tempo”.

Ministra Gleisi Hoffmann em pronunciamento.
Gleisi Hoffmann criticou a manutenção da taxa Selic em 15%.

Como as Decisões do Copom são Tomadas

O Banco Central defende que a definição da taxa de juros é um processo técnico voltado ao controle inflacionário, que afeta desproporcionalmente a população de menor renda. A política monetária do BC opera sob o sistema de metas de inflação. Quando as projeções inflacionárias estão alinhadas com as metas estabelecidas, o BC pode reduzir os juros; caso contrário, tende a mantê-los ou elevá-los.

Desde o início de 2025, com a adoção da meta contínua, o objetivo para a inflação foi fixado em 3%, com uma margem de tolerância entre 1,5% e 4,5%. No entanto, com a inflação ultrapassando a meta por seis meses consecutivos em junho, o BC precisou emitir uma carta pública explicando os motivos. A instituição considera as projeções futuras para a inflação ao definir a taxa de juros, uma vez que os efeitos da Selic na economia levam de seis a 18 meses para se manifestarem plenamente.

Atualmente, o BC direciona seu olhar para o segundo trimestre de 2027. As projeções de mercado para a inflação oficial em 2025, 2026, 2027 e 2028 são de 4,55%, 4,20%, 3,8% e 3,5%, respectivamente. Essas projeções indicam que a inflação deve permanecer acima da meta central de 3% nos próximos anos.

Fonte: G1

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