IGF: Por que a ideia do Imposto sobre Grandes Fortunas não avança no Brasil?

Entenda por que a ideia do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) é persistente, mas enfrenta desafios históricos e recentes em sua implementação no Brasil e no mundo.
Imposto sobre Grandes Fortunas — foto ilustrativa Imposto sobre Grandes Fortunas — foto ilustrativa

A ideia de aplicar alíquotas crescentes sobre a renda, conhecida como progressividade tributária, tem origens no imposto de renda britânico do final do século 18. Essa abordagem, adotada por alguns países europeus no final do século 19 e consolidada no século seguinte, encontra limites para evitar tornar-se confiscatória. A Constituição brasileira, com sabedoria, estabelece que a progressividade no imposto de renda seja definida por lei.

A história do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF)

Paralelamente, surgem teses que defendem uma tributação mais elevada sobre renda e riqueza por meio do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). Este imposto, que teve sua primeira experiência na década de 1940 para financiar a reconstrução pós-guerra, foi implementado em nações europeias entre as décadas de 1970 e 1980, mas acabou sendo extinto na maioria delas na década seguinte.

A Constituição brasileira de 1988 inspirou-se no modelo francês para prever o IGF. Instituído na França em 1982 pelo governo de François Mitterrand, o imposto teve uma vida curta, sendo extinto cinco anos depois, reinstituído com o adjetivo “solidariedade” e, finalmente, suprimido em 2017 por Emmanuel Macron, que o substituiu por um imposto sobre grandes patrimônios imobiliários.

Uma tentativa recente de restabelecer o IGF na França, com base nas ideias do economista Gabriel Zucman, seguidor das teorias de Thomas Piketty, foi rejeitada pelo parlamento francês em outubro passado.

Experiências internacionais e desafios do IGF

A Noruega, um dos poucos países que ainda mantêm o IGF, viu sua iniciativa de aumentar as alíquotas resultar na migração de mais de cem grandes contribuintes, que encontraram refúgio na Suíça e em outros países. Essa experiência demonstra a complexidade e os riscos associados à tributação de grandes fortunas.

O IGF no Supremo Tribunal Federal (STF)

Atualmente, o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa uma ação que busca “obrigar” o Congresso Nacional a instituir o IGF. A ação é patrocinada por um partido político que já apresentou um projeto para a criação do imposto, mas sem sucesso na tramitação parlamentar.

A alegação de inconstitucionalidade por omissão é questionável, pois a previsão constitucional para a instituição de um imposto configura uma competência, não uma obrigação. Além disso, o IGF tem se mostrado ineficaz em outros países devido à sua baixa arrecadação, alta complexidade administrativa, propensão à evasão fiscal e à fuga de grandes contribuintes para jurisdições fiscais mais favoráveis.

Proposta para o futuro da tributação no Brasil

Diante desse cenário, seria mais produtivo para o Congresso Nacional considerar a supressão da previsão constitucional do IGF, a fim de prevenir novas propostas demagógicas e focar em um sistema tributário mais eficiente e justo. A discussão sobre a progressividade, como a do imposto de renda, já oferece caminhos para uma tributação mais equitativa, sem os entraves e riscos do IGF.

Fonte: Estadão

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