Um novo modelo de crédito imobiliário no Brasil promete beneficiar os grandes bancos, ao mesmo tempo em que impõe desafios significativos às instituições de médio porte. A análise é da Fitch Ratings, uma das principais agências de Classificação de risco globais. As novas regras, anunciadas recentemente, buscam reestruturar a forma como os recursos da poupança são utilizados no financiamento habitacional.
Impacto Assimétrico no Mercado
A Fitch Ratings avalia que as recentes mudanças, embora com impacto neutro nas classificações de crédito em si, terão efeitos “assimétricos” sobre a lucratividade e a competitividade. Um dos pontos centrais é a redução gradual da exigência de direcionamento de 20% da poupança para compulsórios. Essa medida permitirá que os bancos apliquem esses recursos em operações mais rentáveis, desde que mantenham um volume equivalente de crédito imobiliário por meio de outras fontes.
“Os bancos precisarão equilibrar a concessão de financiamentos imobiliários e a captação de recursos por meio da poupança, das letras de crédito imobiliário (LCIs) e das letras imobiliárias garantidas (LIGs)”, aponta o relatório. A agência prevê que a maior flexibilidade deve ajudar a compensar a redução das taxas de juros nos financiamentos imobiliários.
A reestruturação forçará uma análise mais detida sobre a gestão de ativos para garantir a lucratividade. A tendência é de que haja um foco maior em outras linhas de negócio, o que pode ser “marginalmente positivo” para os bancos maiores, segundo a Fitch.
Desafios para Instituições de Médio Porte
Instituições financeiras de médio porte, em contrapartida, enfrentarão o desafio de conciliar as novas exigências regulatórias com um custo de captação naturalmente mais alto. Além disso, o Acesso mais limitado ao mercado de capitais se torna uma questão mais grave em um cenário de juros elevados como o atual.
A Fitch destaca que o novo modelo reforça a necessidade de Disciplina regulatória. “Os grandes bancos devem consolidar as vantagens associadas à diversificação e à escala, enquanto as instituições menores enfrentarão maior dependência de captações no mercado e margens mais estreitas”, ressalta a agência.
Outras Mudanças no Setor
No que diz respeito às restrições no uso do saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a Fitch avalia que essa medida poderá reduzir a originação de crédito no segmento. Por outro lado, o aumento do teto para financiamento tende a estimular os segmentos médio e mais altos do Mercado imobiliário.
“A viabilidade, no entanto, dependerá da capacidade dos bancos de estruturar fontes de captação competitivas e da manutenção do apetite dos investidores por instrumentos imobiliários (principalmente a poupança) em um ambiente de juros elevados”, conclui a análise.
Fonte: Estadão