Copom: Selic deve ficar travada, mas discurso do BC pode agitar o mercado

Copom deve manter a Selic em 15% nesta quarta-feira (5), mas mercado foca no discurso do Banco Central para sinais sobre futuros cortes de juros.
Selic — foto ilustrativa Selic — foto ilustrativa

O Mercado financeiro aguarda com expectativa a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que será divulgada nesta quarta-feira (5). A expectativa majoritária entre economistas é a manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano. Contudo, o foco principal se volta para o tom do comunicado que acompanhará a decisão, pois este pode oferecer pistas cruciais sobre o momento de futuras reduções.

Segundo o Boletim Focus, as projeções mais recentes indicam que a taxa Selic permanecerá em 15% até o fim do ano. Para os anos seguintes, as previsões apontam para um declínio gradual: 12,25% em 2026, 10,5% em 2027 e 10% em 2028. Essa trajetória gradual reflete a cautela do Banco Central diante da inflação, que, embora em desaceleração, ainda se mantém acima da meta de 3%.

Análise do Discurso do Copom

Especialistas apontam que o comunicado do Copom deverá manter uma postura cautelosa, alinhada a um cenário de desaceleração econômica e inflação persistente. A avaliação predominante é que o Banco Central reforçará a estratégia de manter juros elevados por um período prolongado, priorizando a consolidação da estabilidade de preços antes de considerar cortes.

Imagem do prédio do Banco Central em Brasília.
Banco Central em Brasília. Crédito: Rarhael Ribeiro/Agência O Globo.

Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos, sugere que se o comunicado reconhecer a melhora nas expectativas inflacionárias, mas ressaltar que a ancoragem ainda não é suficiente para justificar reduções, o mercado tende a interpretar a mensagem como ortodoxa e dentro do esperado. Tal cenário poderia levar a uma reação de estabilidade nos mercados.

Por outro lado, alterações sutis na linguagem, como menções à melhora do balanço de riscos ou à possibilidade de flexibilização em um horizonte mais próximo, poderiam ser interpretadas por investidores como um sinal de que o ciclo de queda dos juros se aproxima. Mesmo sem alteração na taxa, essa leitura pode impulsionar o Ibovespa, beneficiando especialmente setores sensíveis aos juros, como varejo, construção civil e consumo.

Um comunicado mais firme, que reforce o compromisso com a prudência monetária e não abra margens para cortes antecipados, poderia provocar uma realização de lucros. Especialmente após o recente rali que aproximou o Ibovespa de máximas históricas, parte dos investidores pode buscar a concretização de ganhos.

Sinalizações do Fed e Impacto Global

Em meio à Suspensão da divulgação de estatísticas econômicas nos Estados Unidos devido à paralisação parcial do governo, o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, em 29 de outubro, concentrou as atenções do mercado. Powell sinalizou uma possível pausa no ciclo de cortes de juros, afirmando que existe uma tendência entre os dirigentes para interromper os cortes.

Paulo Godoi Filho, especialista em economia e política internacional, explica que o discurso de Powell influencia diretamente a estratégia de investidores em países emergentes como o Brasil. O comportamento do Fed tende a ditar o rumo das taxas de juros e o apetite por risco globalmente.

Gráfico de índice da bolsa de valores.
A volatilidade do mercado é influenciada por decisões de bancos centrais globais. Crédito: Shutterstock.

Quando o Fed adota uma postura mais dovish (branda e propensa a reduzir juros), há uma tendência de queda nas taxas globais, o que favorece ativos de risco, como os brasileiros. Em contrapartida, uma sinalização mais hawkish (inclinada a juros mais altos) faz com que o capital migre para os Estados Unidos em busca de rendimentos maiores e segurança, pressionando moedas e bolsas de países emergentes.

“Mais do que o tom duro, o que o mercado percebeu no discurso de Powell foi um alerta: o Fed ainda não está convencido de que a inflação está sob controle. Isso muda a dinâmica global de risco, porque cada frase dele redefine o fluxo de capitais, e, em países emergentes como o Brasil, isso pode significar depreciação cambial e reprecificação imediata dos ativos”, afirma Godoi Filho.

Juros Elevados e a Seletividade no Mercado

A manutenção da Selic em 15% ao ano, embora possa ser vista como uma decisão prudente pelo Banco Central, envia um recado claro ao mercado: a entrada de novo capital, especialmente o estrangeiro, continuará em espera. Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos, explica que investidores estrangeiros seguem um roteiro, observando país por país. Quando percebem que uma economia inicia o corte de juros, direcionam recursos para setores voltados ao mercado interno. A demora nesse corte prolonga a espera por esses fluxos.

Juros em patamares elevados mantêm o custo do crédito alto, impactando a engrenagem econômica. Nesse cenário, algumas empresas se destacam.

Mello aponta que empresas com alta capacidade de geração de caixa e que pagam bons dividendos, como bancos, o setor elétrico e companhias de telecomunicação, tendem a se beneficiar. Esses setores compartilham a característica de previsibilidade de receitas e baixo investimento adicional, garantindo maior sobra de caixa.

Por outro lado, empresas que dependem de investimentos pesados e de longo prazo para retorno, como as de infraestrutura e construção civil, enfrentam desafios. Juros elevados encarecem o financiamento e reduzem margens de Lucro. Para construtoras de média e alta renda, o problema se agrava com a dificuldade de financiamento imobiliário para os clientes, o que diminui o potencial de mercado.

Fonte: InfoMoney

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