Democracia no Brasil: A Necessidade de Ouvir a Voz Negra

Lançamento do livro ‘A Palavra e o Poder’ no Rio debate a importância de incluir a voz negra na democracia brasileira e a representatividade nas esferas de poder.
Voz negra na democracia — foto ilustrativa Voz negra na democracia — foto ilustrativa

A necessidade de incluir e ouvir a população negra no debate democrático brasileiro foi um dos pontos centrais do lançamento do livro “A Palavra e o Poder” no Rio de Janeiro. O evento reuniu debatedores que discutiram a representatividade e o acesso às esferas de poder.

A Voz das Favelas e Periferias na Democracia

A economista Elena Landau destacou a importância de dar voz a figuras como Preto Zezé, representante da Cufa (Central Única das Favelas). Zezé relatou não ter sido contatado por governos federal e estadual para discutir questões de segurança pública, especialmente após uma grande operação policial que resultou em inúmeras mortes. Para os participantes, a democracia, mesmo com 40 anos de existência, ainda falha em abranger plenamente a população negra e das comunidades, gerando sentimentos de abandono e ressentimento em relação à violência estatal e ao uso eleitoral do tema.

Debatedores em evento de lançamento do livro 'A Palavra e o Poder' no Rio de Janeiro.
Lançamento do livro “A Palavra e o Poder” discutiu a representatividade negra na democracia brasileira.

A pesquisa sobre a megaoperação policial indicou que a maioria da população aprovou a ação. Landau criticou a discussão eleitoral em torno da Falta de Estado nas comunidades, afirmando que “é bonito todo mundo falar que está faltando Estado nas comunidades. Mas é uma discussão eleitoral”.

Perspectivas sobre Violência e Desigualdade Social

O debate contou com a participação da cientista política Argelina Figueiredo, e dos colunistas da Folha, Dora Kramer e Muniz Sodré. Sodré apontou para as complexas emoções vivenciadas nas comunidades, como o medo e o ressentimento, que vão além das discussões teóricas e que podem se manifestar como um alívio perante ações violentas. “Esse ressentimento do povo que apoia o banho de sangue é alívio também. É terrível dizer isso. Mas é verdade”, observou.

Diversidade e Representatividade na Obra

O livro “A Palavra e o Poder” reúne artigos publicados na Folha ao longo de quatro décadas de democracia, complementados por novos textos. Flavia Lima, uma das organizadoras, destacou o esforço para diversificar o debate público na obra. “Se a primeira lista reflete o panorama branco e masculino, a segunda foi concebida para tentar ampliar e diversificar o debate público. As mulheres representam 60% e, pessoas negras e indígenas, 40%”, explicou.

O Uso Político da Segurança Pública e as Eleições de 2026

O uso político de operações de segurança pública foi um ponto de discórdia, com o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), celebrando o sucesso da ação, enquanto o presidente Lula (PT) a classificou como “matança”. Argelina Figueiredo alertou que os limites éticos foram ultrapassados, mesmo reconhecendo a dificuldade de atuar nessas regiões. A proximidade das eleições de 2026 também foi tema, com Dora Kramer prevendo uma disputa acirrada e com potencial para surpresas, lembrando a dinâmica de pleitos anteriores.

Elena Landau expressou preocupação com a repetição de modelos econômicos que já falharam, citando a experiência de governos anteriores e alertando para possíveis desdobramentos negativos. O lançamento do livro também incluiu eventos em São Paulo e Brasília, com futuras edições programadas para Belém e Lisboa.

Fonte: Folha de S.Paulo

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