Haddad e o “Teatro Eleitoral”: Mercado Ignora Discurso de Ministro

Mercado reage com ironia às falas eleitorais de Fernando Haddad sobre crise fiscal e Selic. Entenda a perspectiva econômica.
Fernando Haddad — foto ilustrativa Fernando Haddad — foto ilustrativa

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem sido recebido pelo mercado financeiro com uma mistura de tolerância e ironia diante de seu discurso cada vez mais voltado para a campanha eleitoral. As declarações de Haddad, que classificou como “delírio” a visão de crise fiscal no Brasil e sugeriu que o mercado financeiro torce contra o país, são interpretadas como parte da estratégia de um governo que buscará a reeleição em breve.

Ministro da Fazenda Fernando Haddad discursando em evento sobre COP30.
Fernando Haddad em evento sobre a COP30.

A Visão do Mercado Sobre as Declarações de Haddad

Participantes do Mercado veem as falas de Haddad como previsíveis e já incorporadas às expectativas, considerando que o foco principal seria mais relevante em declarações do presidente Lula sobre seus planos para um eventual novo governo. Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, aponta que Haddad deve intensificar seu tom à medida que as eleições se aproximam.

A preocupação do mercado com as contas públicas, que Haddad chama de “delírio”, é vista por analistas como decorrente da métrica utilizada pelo ministro. As metas fiscais, segundo alguns, foram manipuladas para serem “cumpríveis”, mas não refletem a realidade do crescimento preocupante da dívida pública como proporção do PIB, projetada para aumentar mais de 10 pontos porcentuais durante o mandato.

Críticas ao Arcabouço Fiscal e Metas

Críticas ao arcabouço fiscal incluem o cumprimento do limite de despesas, que não impede o avanço da dívida. Além disso, há ressalvas quanto à meta de primário, que se beneficia de descontos como precatórios (equivalente a 0,35% do PIB), gastos militares e parcelas de despesas com saúde. Gastos financeiros que, na prática, funcionam como gastos primários, como o programa Pé de Meia e subsídios em linhas de crédito, também são pontos de atenção.

“No resultado que o próprio governo define, ele vai superbem, mas é uma forma distorcida de olhar o problema fiscal”, comentou um gestor. Apesar das críticas, o mercado reconhece que houve ações na seara fiscal, incluindo o aumento da receita e alguns avanços na despesa, como o pente-fino no Bolsa-Família e a limitação do ajuste real do salário mínimo. Contudo, para muitos, esses passos são insuficientes.

Gráfico projetando o aumento da dívida pública brasileira.
Projeção da dívida pública brasileira.

A Questão da Taxa Selic e a Política Monetária

As declarações de Haddad sobre um possível corte na Taxa Selic são vistas como parte de um “teatro” direcionado ao eleitorado de esquerda. Diante da elevada taxa de juros real no Brasil, alguns analistas consideram notável que a pressão do governo sobre o Banco Central não seja ainda maior. A expectativa do mercado para a próxima reunião do Copom, que ocorre hoje e amanhã, é a manutenção da Selic em 15%. A atuação do Banco Central e a autonomia da sua política monetária continuam sendo pontos cruciais para a estabilidade econômica do país.

O debate sobre a política fiscal e monetária ganha contornos eleitorais, mas o mercado financeiro demonstra resilência, avaliando os fundamentos econômicos e a trajetória futura das contas públicas e da inflação. A análise de longo prazo e a credibilidade das instituições são fatores determinantes para a confiança dos investidores.

Fonte: Estadão

Adicionar um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Imagens e vídeos são de seus respectivos autores.
Uso apenas editorial e jornalístico, sem representar opinião do site.

Precisa ajustar crédito ou solicitar remoção? Clique aqui.

Publicidade