O Brasil desempenhará um papel crucial no plano estratégico global do Grupo Telefónica para otimizar custos e impulsionar a eficiência, visando uma economia de € 3 bilhões até 2030. A controladora da Telefônica Brasil, detentora da marca Vivo, anunciou em Madri as medidas que impactarão suas operações em todos os países onde atua.
Marc Murtra, presidente global da Telefónica, confirmou a inclusão do Brasil neste plano de corte de custos. A estratégia para o país envolve a remoção e venda das redes de cobre da telefonia fixa, além da comercialização de imóveis que abrigavam antigas centrais telefônicas. Estima-se que a Telefônica Brasil arrecade R$ 4,5 bilhões com a venda desses ativos até 2027, contribuindo com cerca de € 700 milhões, ou 23% da meta global de economia.
Digitalização e IA como Vetores de Eficiência
A digitalização de processos e o uso crescente de inteligência artificial no atendimento ao consumidor são outros pilares importantes para a redução de custos no Brasil, conforme destacou Murtra. A companhia reforçará seu foco nos quatro mercados considerados mais estratégicos: Espanha, Reino Unido, Alemanha e Brasil. Simultaneamente, a empresa planeja vender operações em países menos relevantes, como Chile, Colômbia, México e Venezuela, seguindo um movimento já iniciado com a saída do Uruguai e Equador.
Foco no Crescimento e Serviços B2B
O Grupo Telefónica visa manter no Brasil uma trajetória de crescimento superior à inflação, aprimorando a oferta de serviços e a infraestrutura. Para o segmento de banda larga, a prioridade é a atração e retenção de clientes, com a expansão do pacote Vivo Total e a redução do índice de desconexões. A concorrência neste setor tem sido particularmente intensa.
Uma aposta significativa está na expansão dos serviços de tecnologia (TI) e conectividade para empresas (B2B). A expectativa é que este segmento represente 42% do faturamento total até 2028, ante os atuais 38%. O mercado acompanha de perto uma possível aquisição da Oi Soluções, braço de TI da Oi, caso seja colocada à venda, o que seria avaliada pela Telefônica Brasil, segundo indicou o presidente local, Christian Gebara.
Desafios Financeiros e Estratégia de Consolidação
A Telefónica enfrenta um cenário de baixo crescimento e contas apertadas. A Receita líquida consolidada entre janeiro e setembro de 2025 totalizou € 27 bilhões, com um avanço de apenas 1,1% em relação ao ano anterior. O lucro operacional, de € 9 bilhões, apresentou um aumento discreto de 0,9%. O Brasil se destaca como o segundo maior contribuinte para o lucro operacional, respondendo por 32,5%, atrás apenas da Espanha (38,2%).
A dívida líquida consolidada da Telefônica atingiu € 28 bilhões, representando 2,3 vezes seu lucro operacional anual. Para gerenciar essa situação, a empresa busca ganhar escala, aumentar margens e investir em tecnologia. Marc Murtra defende a consolidação do mercado de telecomunicações como uma forma de gerar sinergias significativas, estimadas entre € 18 bilhões e € 22 bilhões. Ele aponta a baixa competitividade e a dependência tecnológica da Europa como argumentos para a união de operadoras.
Perspectivas e Dividendos
Diante deste cenário, a Telefónica revisou sua política de distribuição de dividendos. O dividendo para 2025 foi confirmado em € 0,30 por ação, e para 2026, reduzido para € 0,15 por ação, visando preservar o caixa. No entanto, o plano estratégico projeta uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 1,5% a 2,5% nas receitas e no lucro operacional entre 2025 e 2028, acelerando para 2,5% a 3,5% entre 2028 e 2030. O crescimento será impulsionado pela expansão de ofertas digitais, simplificação operacional, melhoria da experiência do cliente e desenvolvimento de talentos.
Fonte: Estadão
