Dólar Dispara: Aversão a Risco Eleva Moeda Americana Acima de R$ 5,39

Dólar dispara para perto de R$ 5,40 impulsionado pela aversão global a risco. Entenda os fatores que afetam a moeda brasileira e as perspectivas econômicas.
Dólar sobe hoje — foto ilustrativa Dólar sobe hoje — foto ilustrativa

O dólar à vista registrou uma valorização firme frente ao real nesta terça-feira, acompanhando a tendência de alta observada na maioria dos mercados emergentes e em ativos sensíveis a commodities. Dúvidas crescentes dos agentes financeiros sobre o apetite por ativos de risco, que vinha em alta, pressionaram os negócios e levaram a uma realização de lucros no câmbio doméstico.

O atual cenário de aversão a risco é alimentado pela postura mais conservadora do Federal Reserve (Fed) e pelo ceticismo de executivos de grandes empresas americanas quanto à continuidade da apreciação de ativos, especialmente bolsas de Nova York e ações de tecnologia. A sazonalidade negativa do fluxo de capital para o Brasil também pode ter contribuído para a valorização da moeda americana.

No fechamento dos negócios desta terça-feira, o dólar à vista foi cotado a R$ 5,3988, com alta de 0,77%. A moeda atingiu a mínima de R$ 5,3788 e a máxima de R$ 5,4018. Paralelamente, o euro comercial subiu 0,41%, negociado a R$ 6,1964. No cenário Internacional, o índice DXY, que mede a força do dólar contra seis moedas fortes, avançou 0,38%, alcançando 100,255 pontos.

Fed e Aversão ao Risco: Impacto no Mercado

Desde o início da sessão, o câmbio doméstico demonstrou desvalorização, em sintonia com a dinâmica global. A moeda americana chegou a perder força durante o dia, mas recuperou-se. Declarações mais cautelosas de membros do Fed serviram como gatilho para essa movimentação. O banco ING, em nota, apontou que as falas recentes dos dirigentes do Fed indicam menor convicção na trajetória de afrouxamento monetário antes precificada pelo mercado, tornando a instituição ainda mais dependente dos dados econômicos.

“O desafio, no entanto, é que esse foco intensificado em dados ocorre em um momento em que o cronograma usual de divulgação de informações está interrompido pela paralisação do Governo dos EUA, que ainda não tem um fim claro à vista. Como resultado, os poucos indicadores que recebemos – especialmente o relatório ADP de amanhã – podem ter um impacto desproporcional nos mercados, enquanto a escassez generalizada de informações pode levar a períodos mais longos de negociação cambial sem direção definida”, explicou o estrategista de moedas Francesco Pesole.

Análise Econômica: Dólar e Perspectivas para o Real

Marcelo Toledo, economista-chefe da Bradesco Asset Management, avalia que o movimento generalizado de enfraquecimento do dólar tende a “estacionar” neste momento. Um dos motivos é que os cortes de juros esperados do Fed já estão amplamente precificados. “Não enxergamos o Fed indo além do que já tem na curva”, comentou. Além disso, a moeda americana não deve perder força, pois o espaço para diversificação de ativos é limitado. “Acredito que acabou o movimento que vimos de diversificação para moedas de países desenvolvidos, como euro e franco suíço. Ambas valorizam algo perto de 11% neste ano”, observou.

No que diz respeito aos mercados emergentes, Toledo não vê esses países como alternativas de investimento aos EUA. “Quando pensamos em economia emergente atrativa, pensamos, talvez, na Índia, com movimento de atração de capital forte por conta das empresas nos últimos anos. Mas não na ponta de renda fixa. Pode-se pensar, então, que o maior potencial esteja na China, onde é possível ter grande apreciação do câmbio, mas a estrutura de mercado de capitais ainda é fechada, e os juros estão baixos por lá, o que tira a atratividade do país.”

A perspectiva para o real é ainda mais desafiadora. Toledo argumenta que, se o câmbio do fim de 2019 fosse ajustado pelo diferencial de inflação entre Brasil e Estados Unidos, ele estaria hoje em torno de R$ 4,60. “Em tese, poderíamos sonhar em voltar a esse patamar, mas estamos com o câmbio muito mais depreciado, com o dólar a R$ 5,40, e mesmo assim com Déficit em conta corrente elevado. O que explica isso? A nossa produtividade não avançou em relação ao resto do mundo”, afirmou. “Então, diante desse diferencial de produtividade, eu não vejo grande motivo para o câmbio apreciar nos próximos meses.”

Fluxos de Fim de Ano e Cautela no Mercado

As incertezas na economia americana levam a comportamentos mais cautelosos, limitando o bom desempenho que os ativos de risco apresentavam ao longo do ano. No caso do real, um gestor de moedas aponta a atenção redobrada com os fluxos de fim de ano. “É um período em que costuma haver maior saída de dólares do país, e isso pressiona o câmbio. Pode ser que alguns investidores queiram antecipar posições antes de se chegar no pior momento do ano.”

Fonte: Valor Econômico

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