A percepção pública sobre a megaoperação policial contra o Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro, realizada na última terça-feira, 28, sofreu uma guinada significativa nas redes sociais. Inicialmente reprovada pela maioria dos internautas, a ação passou a contar com o apoio da maioria ao longo da semana, conforme aponta um levantamento da AP Exata.
Virada na Percepção Pública Digital
Dados divulgados pela agência de dados indicam que, até sexta-feira, 31, 58,2% dos usuários de redes sociais aprovavam a operação, enquanto 41,8% a reprovavam. Essa inversão contrasta com a avaliação anterior, divulgada dois dias antes, quando 53,2% criticavam a ação e apenas 46,8% a apoiavam. A análise abrangeu 220 mil menções no X (antigo Twitter) e Instagram entre os dias 28 e 31 de outubro.
Contexto da Operação e Letalidade
A operação, batizada de Contenção, mobilizou aproximadamente 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha. Com pelo menos 121 mortes registradas, incluindo quatro policiais, a ação se tornou a mais letal da história recente do Brasil, superando o massacre do Carandiru em 1992. Essa alta letalidade foi, inicialmente, o foco principal das críticas nas redes sociais.
Mudança no Discurso: Da Crítica à “Lei e Ordem”
O levantamento da AP Exata também identificou uma mudança no foco narrativo. Nos primeiros dias após a operação, o debate foi dominado por Críticas à letalidade e ao uso desproporcional da força, com forte impulso de perfis ligados à esquerda. A partir de quinta-feira, no entanto, vozes conservadoras ganharam proeminência, recontextualizando a operação sob a perspectiva de “lei e ordem” e “operação histórica”, substituindo o termo “chacina” por “resultado”.
O Papel da Direita no Debate Digital
Sergio Denicoli, CEO da AP Exata, atribui essa Virada à ascensão da direita no debate digital. Segundo ele, enquanto figuras de esquerda mantiveram o foco nas denúncias de abuso policial, perderam alcance para o avanço conservador, que concentrou 49,1% das menções, contra 30,7% da esquerda e 20,2% de perfis moderados. Publicações de apoio e a mobilização de influenciadores conservadores foram cruciais para moldar a percepção, levando a maioria a considerar a ação eficiente e autoritária.
Responsabilidade pela Crise de Segurança no Rio
A pesquisa também investigou a quem os internautas atribuem a culpa pela crise de segurança pública no Rio de Janeiro. O governo estadual foi o mais responsabilizado, com 41,2% das menções. O governo federal aparece em seguida, com 27,4%, seguido por facções e milícias (24,6%). O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Poder Judiciário somam 5,8% das atribuições, com outros atores respondendo por 1%.
Impacto Político e o Futuro do Debate
Denicoli ressalta que, apesar do volume de menções negativas direcionadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), essa repercussão não afetou significativamente sua popularidade ou a avaliação geral de seu governo. “Acho que isso pode mudar dependendo do posicionamento. Se o Lula realmente assumir esse discurso de defesa de bandido, que está no imaginário de parte da população, de que a esquerda defende bandido, aí sim acredito que isso começará a ter impacto”, pondera.
O especialista conclui que a segurança pública já se consolidou como um tema central no debate político nacional, capaz de dividir posições entre esquerda e direita. O assunto deve continuar em evidência no noticiário, embora com menor destaque nas próximas semanas.
Fonte: Estadão