A incorporadora Idea!Zarvos, conhecida por seus projetos arquitetônicos marcantes e coloridos, celebra 20 anos de atuação com um novo ciclo de otimismo e uma aposta firme em seu legado de edifícios “únicos”. Após um período de turbulências que levou a demissões e uma reestruturação interna, a empresa busca consolidar sua proposta de “mudar a cara de São Paulo“.
Legado Arquitetônico como Diferencial
O sócio e cofundador Otavio Zarvos, de 58 anos, destaca a perenidade da arquitetura como o principal pilar da companhia. “Queremos construir prédios que signifiquem mais do que só se abrigar da chuva. Gosto de saber que vamos deixar um legado”, afirma. Projetos como o 360º, em Alto de Pinheiros, entregue em 2013, exemplificam essa visão com seu design futurista e arranjos geométricos.
A filosofia de design autoral posicionou a Idea!Zarvos no Mercado de alto padrão, com apartamentos que podem ultrapassar os R$ 14 milhões. O empreendimento Damata, no Itaim Bibi, tem o metro quadrado negociado a mais de R$ 54 mil, justificando o valor pela assinatura de arquitetos renomados e a escassez de terrenos em áreas nobres.
Zarvos ressalta que o público da empresa é definido não pela condição financeira, mas pela “educação” ligada à estética, arquitetura, artes e cultura. Ele percebe uma crescente sofisticação nesse público, impulsionada pelo Acesso à informação.
Escassez de Terrenos e Princípios Urbanísticos
A atuação da Idea!Zarvos se concentra em bairros como Pinheiros, Vila Madalena, Moema, Perdizes, Vila Ipojuca e Vila Nova Conceição. Nessas regiões consolidadas, a escassez de terrenos impulsiona a busca por novas estratégias, como a aquisição de múltiplos lotes ou a demolição de prédios existentes. “Isso significa que a terra está ficando cada vez mais escassa”, observa Otavio.
A vocação para uso misto é outro princípio fundamental para a incorporadora, que critica modelos de urbanismo inadequados. “Não acredito que um bairro que não é de uso misto será saudável”, justifica, citando exemplos de mau planejamento urbano. A empresa compara essa abordagem com a estagnação de bairros que não se modernizaram, contrastando com a valorização de regiões que abraçaram o desenvolvimento.
Arquitetura Criativa como Modelo de Negócio
A Idea!Zarvos se distancia de empreendimentos que apostam em assinaturas de grifes automotivas, focando em arquitetura autoral com projetos assinados por arquitetos como FGMF, que colaborou em três edifícios da empresa. Fernando Forte, sócio da FGMF, destaca a capacidade da Idea!Zarvos de “fazer arquitetura de qualidade e viabilizar isso economicamente”, inspirando novas empresas e resgatando arquitetos investigativos.
Rodrigo Queiroz, professor da FAU-USP, analisa que o portfólio da Idea!Zarvos reconfigurou a paisagem urbana em áreas valorizadas de São Paulo. Ele contrasta o modelo da empresa com o de destinos como Balneário Camboriú, que priorizam a verticalidade e a ostentação. Segundo Queiroz, os projetos da Idea!Zarvos atraem um público que, embora com alto patrimônio, prefere um estilo de vida mais “despojado”. A adoção de materiais e acabamentos especiais resulta em edifícios mais perenes e, consequentemente, mais lucrativos.
Desafios Recentes e Reestruturação
Apesar do sucesso em seu nicho, a Idea!Zarvos enfrentou desafios recentes. Reclamações sobre atrasos em entregas, problemas estruturais como infiltrações, vazamentos e acabamento inadequado foram relatadas. Uma fonte anônima mencionou problemas como andares inacabados no prédio Floresta Ipojuca, levando moradores a contratar auditorias.
Otavio Zarvos atribui esses problemas a um crescimento explosivo durante o boom do mercado imobiliário na pandemia, impulsionado pela baixa taxa de juros. A empresa chegou a ter 17 canteiros de obras simultâneos, mas a alta de custos e a Falta de mão de obra geraram atrasos. Com a desaceleração do setor, a Idea!Zarvos promoveu uma reestruturação, demitindo 20% da equipe e reduzindo o número de obras simultâneas para dez.
Novas Apostas: Escritórios, Apartamentos Compactos e Plano Diretor
A Idea!Zarvos tem investido no mercado de escritórios, com projetos como o Módulo Rebouças, sede do Nubank. Atualmente, oito edifícios corporativos estão em desenvolvimento, impulsionados pela demanda por layouts amplos e áreas verdes. A empresa também abraçou a tendência de apartamentos compactos, segmento estimulado pelo Plano Diretor. O lançamento do Alba, com studios e unidades amplas, marcou a entrada nesse nicho, com unidades vendidas a cerca de R$ 19,5 mil o metro quadrado.
Zarvos vê nas mudanças do Plano Diretor oportunidades para inovar e revitalizar o mercado. “Você mexe no caldeirão e dá uma outra cara a um mercado que está meio embaçado”, justifica.
Raízes e Evolução no Mercado Imobiliário
A trajetória da Idea!Zarvos remonta à experiência imobiliária do pai de Otavio, Tito Melo Zarvos, que atuou no segmento econômico. Após a falência da Zarvos Imóveis durante a hiperinflação, Otavio fundou a Zarvos Engenharia com o irmão, antes de seguir carreira solo e, em 2005, criar a Idea!Zarvos. O primeiro empreendimento, o 4×4, foi financiado com recursos da venda de uma pousada em Jericoacoara (CE).
Atualmente, os projetos são financiados com recursos próprios e parcerias com fundos de investimento. Frederico Porto, da REC Gestão de Recursos, destaca a diferenciação dos produtos como um atrativo para investidores, consolidando a Idea!Zarvos como uma empresa com potencial criativo e organização sólida.
Com 47 edifícios entregues e um VGV de R$ 8,20 bilhões, a Idea!Zarvos celebra 20 anos com a promessa de continuar deixando um legado arquitetônico e urbanístico em São Paulo, aliando criatividade a uma estrutura empresarial mais organizada.
Fonte: Estadão
