Crédito Brasileiro: Alta da Selic e Crises Isoladas Abalam Vendas de Títulos

Mercado de crédito brasileiro enfrenta turbulência com alta da Selic e crises isoladas, afetando vendas de títulos. CSN e Raízen entre as impactadas.
Fachada de um prédio da CSN, empresa afetada pela turbulência no mercado de crédito brasileiro. Fachada de um prédio da CSN, empresa afetada pela turbulência no mercado de crédito brasileiro.

A turbulência no mercado de crédito brasileiro está elevando os Custos de financiamento e gerando apreensão entre investidores, levando empresas a adiarem ou reduzirem seus planos de captação de recursos via emissão de dívidas. A emissão de títulos em moeda forte por companhias brasileiras sofreu uma queda superior a 50% em outubro, comparada ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Bloomberg. A CSN, por exemplo, suspendeu em setembro a renegociação de seus títulos em dólares com vencimento para 2028.

A emissão inicial de títulos da Vamos tornou-se mais custosa do que o previsto no mês passado. Investidores exigiram um rendimento maior, mesmo com a empresa diminuindo o valor da oferta em quase metade. Documentos indicam que, no Mercado local, a concessionária de serviços públicos Aegea e uma subsidiária da Casa dos Ventos também reduziram o volume de suas emissões de debêntures.

Fachada de um prédio da CSN
CSN suspendeu renegociação de títulos em dólares devido à instabilidade do mercado de crédito.

Cautela dos Investidores e Crises Isoladas

A hesitação dos investidores é amplificada por uma série de problemas recentes no mercado de crédito. Desvalorizações nos títulos da Braskem e da Ambipar, além da queda na dívida da joint venture de açúcar e etanol Raízen, aumentaram a desconfiança. Embora esses eventos sejam, em sua maioria, considerados isolados, eles azedaram a percepção do mercado em relação a dívidas de empresas estreantes, pequenas companhias e negócios altamente alavancados, após um período de forte desempenho.

Entre meados de setembro e o início de outubro, os custos de Empréstimo para empresas brasileiras aumentaram em quase um ponto percentual em relação aos títulos do Tesouro dos EUA, conforme dados da Bloomberg. “Os investidores não querem se envolver com esse tipo de história”, comentou Belinda Hill, gestora de portfólio da Gramercy Funds Management, referindo-se a eventos considerados “idiossincráticos” no mercado brasileiro.

Impacto da Taxa Selic e Cenário Internacional

A situação no Brasil se soma a preocupações globais com crédito. Nos Estados Unidos, a financeira de veículos Tricolor Holdings e a fornecedora de autopeças First Brands Group entraram com pedido de recuperação judicial em setembro, afetando investidores. O setor bancário americano, por sua vez, resistiu a um abalo forte, mas breve, em outubro, após alegações de fraude em empréstimos a fundos de hipotecas comerciais.

Apesar do cenário adverso, o apetite por emissores com rating mais baixo fora do Brasil tem se mantido elevado. Empresas argentinas já iniciaram planos de emissão de títulos, e no Equador, a Quiport, operadora do aeroporto de Quito, contratou bancos para uma potencial venda de dívida.

O governo brasileiro assegura que está monitorando a situação, mas não identifica riscos sistêmicos. Contudo, muitos analistas apontam a taxa básica de juros do país, a Selic, em 15% — o maior patamar em quase duas décadas —, como um fator significativo.

Bevan Rosenbloom, analista sênior de crédito da Seaport Global Holdings, observa que “o mercado está efetivamente fechado para alguns emissores brasileiros neste momento”. Ele relatou que, em reuniões recentes, executivos descreveram um cenário desafiador, marcado por altas taxas de juros e endividamento crescente. “A alta da Selic nos últimos doze meses impactou significativamente o fluxo de caixa de diversas empresas”, afirmou.

Endividamento e Perspectiva de Mercado

Empresas alavancadas, como a Raízen (controlada pela Shell e pelo conglomerado Cosan), viram seus títulos desvalorizarem. No último mês, investidores na Raízen registraram uma perda de 12%, enquanto um índice da Bloomberg para empresas de mercados emergentes avançou 0,5%. A alavancagem da Raízen foi de 4,5 vezes no último balanço divulgado, calculada como dívida líquida sobre o Ebitda ajustado anual.

Os títulos da CSN também caíram 3,7% no mesmo período. Em 30 de junho, a alavancagem da empresa atingiu 3,2 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda, de acordo com seus relatórios. “Os investidores provavelmente permanecerão cautelosos até que a situação se estabilize”, avalia Cristian Fera, analista da KNG Securities. “Todas as empresas brasileiras estão sob escrutínio.”

Fonte: Valor Econômico

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