Amazônia: Nova Rota Global da Cocaína e Tensão EUA-Brasil

Amazônia se torna corredor global da cocaína, aumentando tensões entre Brasil e EUA e impactando a COP30. Entenda a nova rota do tráfico e seus desafios.
Amazônia corredor cocaína — foto ilustrativa Amazônia corredor cocaína — foto ilustrativa
Puraquequara, a district of Manaus, Brazil, where commerce and illicit cocaine trafficking overlap in the Amazon.

A Amazônia brasileira emergiu como um corredor crucial para o tráfico global de cocaína, transformando a região e gerando tensões diplomáticas, especialmente com os Estados Unidos. Grandes investimentos em infraestrutura logística, como terminais fluviais e o transporte de petróleo peruano, criaram um ambiente propício para o contrabando.

A Polícia Militar do Amazonas, utilizando estratégias como as “bases fluviais” camufladas, triplicou suas apreensões de drogas nos últimos dois anos. Em abril, uma grande operação interceptou mais de meia tonelada de cocaína em barcaças de petróleo provenientes do Peru, evidenciando a sofisticação e o volume do tráfico.

Nova Rota Fluvial do Tráfico na Amazônia

A crescente atividade comercial na Amazônia brasileira, impulsionada pelo agronegócio e pela exportação de petróleo, abriu novas vias para o tráfico de drogas. Embarcações que antes transportavam grãos e petróleo agora são utilizadas para contrabandear cocaína, que segue de laboratórios clandestinos na Colômbia e no Peru por rios como o Solimões em direção a portos no Atlântico e, subsequentemente, para Europa e Ásia.

Dados do Governo do Amazonas revelam que as apreensões de cocaína na região triplicaram em dois anos. Estima-se que a carga apreendida no ano passado, totalizando 15 toneladas, valha cerca de US$ 1,8 bilhão nos EUA, mas representa apenas uma fração do total que transita pela região.

Imagem de Flávio Bolsonaro em uma audiência
Investigações sobre crime organizado ganham destaque no cenário político brasileiro.

Tensão entre Brasil e EUA Aumenta

O aumento do tráfico de cocaína pela Amazônia coloca o Brasil em rota de colisão com a política antidrogas dos Estados Unidos, especialmente sob a administração de Donald Trump. A campanha americana contra o narcotráfico tem sido agressiva, com ameaças de sanções e retaliações diplomáticas.

O avanço do crime organizado na região pode comprometer a reaproximação entre os governos brasileiro e americano, que vinha se restabelecendo após períodos de tensão. Analistas apontam que os EUA podem usar a questão do tráfico como instrumento político para pressionar o Brasil, um cenário recorrente na história das relações bilaterais.

Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA afirmou que o país apoia as forças de segurança brasileiras na interceptação de atividades ilícitas nas hidrovias e portos do Brasil, em cooperação com outros parceiros do Cone Sul.

Presidente Lula em evento oficial
A política antidrogas brasileira é um ponto de atenção nas relações diplomáticas.

COP30 e o Desafio do Crime Organizado

Às vésperas da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas em Belém, o Brasil enfrenta o desafio de gerenciar o avanço do tráfico de cocaína na Amazônia. A rota de drogas, conhecida como Rota do Solimões, é controlada por facções criminosas como o Comando Vermelho, que se beneficia da vasta extensão territorial e da precária presença policial nas áreas de fronteira.

A logística do tráfico envolve desde lanchas armadas e semissubmersíveis até a infiltração de drogas em cargas de exportação de soja e petróleo. Incidentes como a apreensão de 500 quilos de cocaína em um porto no Maranhão, em um navio operado pela Polsteam, demonstram a complexidade da fiscalização.

Impacto do Agronegócio e do Petróleo no Tráfico

O crescimento do agronegócio brasileiro, com a expansão de rotas logísticas e o aumento das exportações de grãos, facilitou o trabalho dos traficantes ao diversificar o tráfego fluvial e marítimo. Da mesma forma, o transporte de petróleo peruano, realizado por empresas como a PetroTal e fretado pela Novum Energy Trading Corp., oferece novas oportunidades para ocultar cocaína.

Empresas como Valero Energy Corp. e Marathon Petroleum Corp. já receberam carregamentos de petróleo da região. Embora não haja indícios de envolvimento direto dessas empresas no tráfico, a lei brasileira isenta os armadores de responsabilidade se não tiverem conhecimento do crime. Investigações recentes indicam que pelo menos três tentativas de usar embarques de petróleo de Bretaña para introduzir cocaína no Brasil foram interceptadas.

Rio Amazonas com barcos
O Rio Amazonas se tornou uma importante rota para o tráfico internacional de drogas.

Crescimento do Tráfico e Pressão Internacional

O comércio mundial de drogas, em grande parte clandestino, vive uma era de ouro, com apreensões de cocaína no Brasil aumentando quase cinco vezes entre 2015 e 2023. O consumo e a produção global da droga atingem recordes, conforme dados do UNODC.

O Brasil, segundo maior consumidor mundial, enfrenta o desafio de conter o fluxo que, após a repressão em outras fronteiras, tem se deslocado para o coração da Amazônia. A falta de policiamento e a vasta extensão territorial favorecem a ação de cartéis, levantando preocupações sobre o controle de grandes territórios, como ocorreu no norte do México e em algumas regiões da Colômbia.

O impacto nas comunidades amazônicas é devastador, com aumento de crimes, ameaças a moradores e a cooptação de jovens pelo tráfico. A situação é especialmente grave em áreas remotas e em cidades-chave como Belém, que se prepara para sediar a COP30.

Os custos ambientais do narcotráfico incluem a contaminação de lençóis freáticos, o desmatamento e o tráfico de animais silvestres. Apesar dos esforços, a complexidade geográfica e a resiliência das redes criminosas tornam a erradicação do tráfico uma tarefa hercúlea, com análises indicando que o Estado dificilmente vencerá essa guerra.

Navio de carga no rio
Grandes embarcações são frequentemente utilizadas no transporte de cocaína.
Controle de fronteira na Amazônia
A vasta fronteira amazônica apresenta desafios significativos para a fiscalização.

Fonte: InfoMoney

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