Acordo Brasil-EUA: Especialista Welber Barral aponta complexidade na negociação tarifária

Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior, detalha a complexidade e os desafios da negociação tarifária entre Brasil e EUA. Entenda os temas e prazos.
Acordo Brasil-EUA — foto ilustrativa Acordo Brasil-EUA — foto ilustrativa

Apesar das sinalizações positivas e do otimismo de Brasil e Estados Unidos, negociar um acordo tarifário entre os países não é simples e não ocorrerá rapidamente, avalia o ex-secretário de Comércio Exterior e sócio-fundador da BMJ Consultoria, Welber Barral.

Barral destacou, em Entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, que temas complexos como exploração de terras raras, regulação de big techs e Acesso ao etanol estão na mesa de negociação. “O acordo com o Brasil não é simples, não é algo que vai sair de um dia para o outro”, afirmou.

Contexto da Negociação Tarifária Brasil-EUA

A negociação bilateral sobre a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros teve início recentemente, após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump. Barral vê chances reais de um acordo, impulsionado pela busca dos EUA por negociações tarifárias, mas a complexidade dependerá dos temas incluídos.

O especialista sugere que um acordo parcial pode ocorrer ainda neste ano, especialmente se houver uma visita do presidente Lula aos Estados Unidos em dezembro. A estratégia brasileira de pleitear a retirada linear da sobretaxa, em vez de negociações setoriais, é considerada a mais adequada.

Complexidade e Prazos para um Acordo

Comparando com outros acordos dos EUA, como o firmado com a União Europeia que levou seis meses, e negociações em andamento com a China, Barral estima que o acordo com o Brasil, por estar apenas começando, pode levar cerca de três meses para se concretizar, embora um prazo mais preciso dependa da definição da pauta.

Ele ressaltou o impacto no consumidor americano, citando o aumento de preços de produtos como café e carne bovina. A importação de madeira para a construção civil nos EUA também é afetada, embora o Canadá seja o principal fornecedor.

Estratégia de Negociação: Retirada Linear vs. Setorial

Barral considera a estratégia de retirada linear da tarifa, defendida pelo governo brasileiro, como a mais vantajosa. Negociar setor a setor, ele explica, impõe um alto custo político ao Brasil e torna a negociação excessivamente prolongada.

“Em uma negociação de compra com o Brasil, se começar a negociar setor a setor, a negociação não termina nunca”, alertou.

Quanto à possibilidade de uma pausa tarifária temporária (90 dias), ele considera teoricamente viável, mas não garantida. A suspensão ocorreu em outros casos, como com China, México e União Europeia, mas dependerá da dinâmica e da extensão da pauta de negociação.

Relação Brasil-EUA vs. Brasil-China

Diferentemente da complexa relação comercial entre EUA e China, que envolve tensões e retaliações, a relação com o Brasil, embora relevante, tem menor peso na economia americana. Barral descarta um cenário de guerra comercial similar ao da China, mas não impossibilita imprevistos na negociação.

O especialista mencionou que os EUA já excluíram de tarifas produtos não produzidos internamente, como o café, por meio de Ordens Executivas. Contudo, no momento, faltam sinalizações específicas, em parte devido à lentidão causada pelo shutdown governamental nos EUA.

Temas Sensíveis na Pauta: Terras Raras e Big Techs

Sobre os temas de acesso ao mercado de etanol, regulação de big techs e exploração de terras raras, Barral enfatiza que o interesse do Brasil na exploração de terras raras, dada sua vasta reserva, falta de investimento e tecnologia, é um ponto chave. O ponto crucial reside em como esses temas serão negociados, buscando um acordo equilibrado, similar ao firmado com a Austrália.

Questões políticas, como sanções a ministros do STF, e aspectos técnicos e jurídicos, como a investigação dos EUA no âmbito da Seção 301 e reclamações do Brasil na OMC, precisarão ser integradas à negociação comercial, ressaltando que não há uma separação clara entre temas políticos e econômicos.

Fonte: Estadão

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