Agro no RS: Produtores Inovam Contra Secas e Enchentes

Produtores do RS inovam com tecnologia e manejo para superar secas e enchentes extremas, buscando sustentabilidade e viabilidade econômica no agronegócio.
Produtores RGS superam perdas climáticas — foto ilustrativa Produtores RGS superam perdas climáticas — foto ilustrativa

O setor agropecuário do Rio Grande do Sul enfrenta desafios climáticos extremos, com produtores inovando para mitigar perdas causadas por secas e enchentes. Ivone Riboldi Bellé, viticultora em Bento Gonçalves, exemplifica a resiliência. Após duas enchentes em pouco mais de um ano que destruíram seus vinhedos, ela se recusa a desistir de sua paixão pela viticultura, que remonta a gerações.

Vinhedo protegido por técnicas de manejo do solo no Rio Grande do Sul.
Produtores no RS buscam soluções inovadoras para proteger suas lavouras contra eventos climáticos extremos.

A primeira grande perda ocorreu em maio de 2024, durante um desastre climático que assolou o estado, resultando em enchentes e deslizamentos. Ivone relata ter ficado ilhada e, ao retornar ao seu vinhedo, encontrou-o devastado. “Meu parreiral inteiro tinha ido para dentro do rio”, lamenta. A situação foi agravada pela perda de sua sogra e 28 dias sem luz, causando um trauma significativo que ainda a afeta, gerando medo constante de chuva e problemas cardíacos.

Com o apoio da Vinícola Aurora, da qual é cooperada, Ivone iniciou a reconstrução. O engenheiro agrônomo Jonas Panisson a auxiliou na correção do solo e na plantação de forrageiras para proteção. No entanto, um novo deslizamento em junho deste ano cobriu parte da área recuperada, exigindo um novo recomeço. “Estava em casa, ouvi o barulho e saí. Parecia um avião caindo”, descreve o susto. Para Ivone, a vocação pela produção de uva, herdada de sua família, a impulsiona a persistir, mesmo diante das adversidades.

Novo Ciclo e Tecnologia no Arroz

Na região central do Rio Grande do Sul, produtores de arroz, trigo, soja, milho e gado buscam amenizar os efeitos das mudanças climáticas. Arno Lausch, produtor de arroz em Santiago (RS), investiu em um sistema de bombas para retirar 5 mil litros de água por segundo do rio Ibicuí, garantindo o cultivo por inundação independentemente das chuvas. “Investimos muito, temos muita tecnologia instalada na fazenda, pois há 40 anos a família trabalha nessas terras”, afirma.

A família Lausch cultiva 1,2 mil hectares e utiliza um veículo aéreo não tripulado (drone) para captar imagens das lavouras, com precisão de 12 centímetros quadrados. Esses dados são inseridos em tratores com piloto automático para produzir os contornos das taipas, permitindo irrigação e aplicação de insumos com alta precisão. Essa tecnologia reduz em 40% o custo do preparo do solo e dos tratos culturais.

Crédito Insuficiente e Securitização

Apesar das inovações, muitos produtores acumulam dívidas devido a anos de secas e enchentes. Em setembro, o governo federal liberou R$ 12 bilhões para produtores com perdas significativas entre julho de 2020 e junho de 2025. Contudo, os produtores consideram o crédito insuficiente e o prazo de pagamento de três a quatro anos muito curto. Eles defendem uma securitização com juros subsidiados e prazos estendidos para pelo menos 10 anos, buscando maior fôlego financeiro para a recuperação de suas propriedades.

Integração Lavoura-Pecuária e Desafios Climáticos

Alexandre Foster, da Associação dos Produtores de Soja e Milho no Rio Grande do Sul (Aprosoja-RS), destaca a imprevisibilidade do clima. “Não existe improviso, é tudo analisado e calculado, mas o que resiste a 600 milímetros de chuva de uma vez?”, questiona. Foster pratica a integração lavoura-pecuária (IPL) em 800 hectares, combinando a criação de gado Angus com o cultivo de soja, aveia, azevém e forrageiras.

A técnica de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) sincroniza a ovulação das fêmeas para padronizar a produção de bezerros, enquanto o esterco enriquece o solo. No entanto, a seca severa de 2024 secou centenas de eucaliptos, e as chuvas intensas subsequentes transformaram o pasto em lama e causaram erosão, levando embora as melhores camadas do solo. “Vamos levar 10 anos para voltar ao que era, a um custo imenso”, desabafa.

Persistência e Custo Elevado

Valtair Domingos Coró, produtor na Fazenda Limoeiro em Itaqui, mudou seu plantio para Parceria com a Pirahy Alimentos. Suas áreas possuem cobertura verde de nabo forrageiro, consorciado com trigo e arroz, visando arejar o solo e fixar nitrogênio. Contudo, as chuvas de junho alagaram as lavouras de trigo, exigindo replantio. “Em junho deste ano, vieram as chuvas, alagaram as lavouras de trigo e liquidaram as terras. Precisamos replantar quase tudo”, relata.

O produtor também aponta o aumento expressivo nos Custos. “Uma máquina que compramos por R$ 1,3 milhão, vamos repor agora pagando R$ 4 milhões.” Similarmente, na Fazenda Santa Rosa, Charles Leslie Wright Junior e seu filho Charles Ferrugem Wright enfrentam perdas na produção de soja, milho, trigo e gado braford. A seca intensa de 2024 secou o lago, e mesmo com irrigação, a safra foi perdida. As enchentes danificaram os trigais e causaram erosão. “Se a gente não planta para ter retorno, por que plantar?”, questiona Charles, o pai, refletindo sobre a desmotivação para as novas gerações.

Fonte: Estadão

Adicionar um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Imagens e vídeos são de seus respectivos autores.
Uso apenas editorial e jornalístico, sem representar opinião do site.

Precisa ajustar crédito ou solicitar remoção? Clique aqui.

Publicidade