Sucata de Alumínio: Corrida Global Ameaça Reciclagem no Brasil

Disputa global por sucata de alumínio ameaça a capacidade de reciclagem do Brasil. Saiba os desafios e a importância da COP-30 para o setor.
Sucata de alumínio — foto ilustrativa Sucata de alumínio — foto ilustrativa

O Brasil ostenta um sucesso notável na reciclagem de alumínio, mas enfrenta desafios significativos que podem comprometer seu potencial. Janaina Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), aponta a exportação de sucata como uma preocupação central, impedindo o país de alcançar a plenitude de sua capacidade de reciclagem. Enquanto isso, gigantes como a China utilizam sucata brasileira em suas linhas de produção.

“O Brasil possui capacidade instalada superior ao volume processado: em 2024, foram recicladas cerca de 645 mil toneladas, embora a capacidade ultrapasse 1 milhão. A disputa global por sucata é um dos principais entraves. Com a demanda mundial de alumínio crescendo rapidamente, países como a China estão ampliando suas capacidades de reciclagem e importando sucata para atender à demanda”, explicou Donas.

Alumínio Sustentável e a COP-30

Janaina Donas vê a COP-30 em Belém como uma vitrine global para demonstrar que o Brasil produz um dos alumínios mais sustentáveis do mundo. Este metal se destaca pela baixa pegada de carbono, alto índice de reciclagem e uma cadeia circular que gera benefícios ambientais e sociais. O setor pretende reforçar que o alumínio é fundamental na solução para a descarbonização global, posicionando o Brasil como uma potência em reciclagem e reindustrialização verde, com papel de Liderança na transição energética.

Testeira temática sobre a COP-30 e a importância da energia limpa.
A COP-30 em Belém é vista como oportunidade para destacar o alumínio sustentável brasileiro.

Desafios da Descarbonização no Setor de Alumínio

Embora o Brasil apresente uma intensidade carbônica 3,3 vezes menor que a média global, ainda há espaço para melhorias na descarbonização do setor de alumínio. O principal obstáculo reside na substituição de combustíveis fósseis nas refinarias, onde o uso de biomassa, como cavaco de eucalipto e resíduos de açaí, já contribui para a redução de emissões. Avanços tecnológicos, como o uso de ânodos inertes e a captura de carbono, são cruciais. A rastreabilidade do alumínio é essencial para comprovar práticas sustentáveis e acessar mercados que oferecem prêmios pelo “alumínio verde”. A formalização e o financiamento da cadeia de reciclagem, com inclusão de catadores, também são frentes Críticas, assim como a ampliação da circularidade e o uso eficiente de água e energia.

Rastreabilidade e o “Alumínio Verde”

A rastreabilidade confere um diferencial comercial significativo, permitindo que o alumínio com certificação de origem limpa receba um prêmio no mercado Internacional. Para isso, é imperativo comprovar a origem, o processo produtivo e o conteúdo reciclado do metal. A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) lidera uma iniciativa pioneira de rastreabilidade, expandindo um sistema inicialmente focado no plástico para o alumínio. Essa ação é vital para alinhar políticas públicas, como o programa Mover, que incentiva o uso de materiais reciclados na indústria automotiva, reforçando a importância de esforços integrados.

Alumínio como Pilar da Descarbonização

O alumínio desempenha um papel estratégico na descarbonização de setores-chave como embalagens, transportes, construção civil, bens de consumo, maquinário e eletricidade. Estima-se que esses segmentos demandem um aumento global de 40% a 55% até 2030. O metal contribui diretamente para a redução de emissões: no transporte, sua leveza e durabilidade melhoram a eficiência energética; em painéis solares e cabos elétricos, fortalece a infraestrutura de energia limpa. A produção brasileira de alumínio, que utiliza 90% de energia renovável, resulta em uma das menores pegadas de carbono do mundo, consolidando o metal como essencial para a descarbonização industrial e para o cumprimento de metas climáticas globais.

A Corrida Global pela Sucata de Alumínio

A disputa global pela sucata de alumínio se intensifica devido à sua capacidade de aumentar rapidamente a oferta. Enquanto a produção primária exige vultosos investimentos e matérias-primas como bauxita e alumina – áreas onde o Brasil tem vantagens competitivas –, a sucata representa uma alternativa mais ágil. Países asiáticos, notadamente a China, com restrições à produção a carvão, buscam acelerar sua transição energética através da importação de sucata. Essa corrida mundial pode comprometer a autossuficiência brasileira se não houver políticas eficazes de retenção do material reciclável. Organismos internacionais alertam para um possível Déficit global de alumínio a partir de 2026, o que levanta preocupações para Estados Unidos e União Europeia, além do próprio Brasil, caso a exportação de sucata continue descontrolada.

China: Um Jogo de Poder no Mercado de Alumínio

Há duas décadas, a China redefiniu o mercado global de alumínio com investimentos massivos na produção primária. O excedente exportado a preços baixos levou o Brasil e outros países a adotarem medidas de defesa comercial. Atualmente, as barreiras comerciais focam em questões ambientais, impulsionadas pela dependência chinesa do carvão. Em resposta, a China tem reduzido a produção primária e investido pesadamente em reciclagem, alcançando uma capacidade superior a 22 milhões de toneladas – muito além do Brasil, embora com um índice de reciclagem menos eficiente. A estratégia chinesa inclui importar sucata e limitar exportações, visando metas ambiciosas de reciclagem e eletrificação mais limpa. Essa movimentação, aliada a um possível déficit global de alumínio, torna a exportação contínua de sucata brasileira uma ameaça à sua autossuficiência e aos avanços em rastreabilidade e sustentabilidade.

Exportação de Sucata: Ganho Imediato, Perda Estratégica

Exportar sucata de alumínio pode gerar ganhos econômicos imediatos para intermediários, mas representa uma perda estratégica para o Brasil a longo prazo. O país deixa de capitalizar sobre sua vantagem competitiva de produzir um alumínio verde, com alta taxa de reciclagem e baixa pegada de carbono. A exportação de sucata equivale a enviar um insumo estratégico essencial para a reindustrialização verde, que posteriormente retorna como produto acabado, competindo com a indústria nacional. Embora a proibição total não seja defendida, uma política estratégica de retenção de material reciclável é urgente. Mais de 20 países já implementaram restrições à exportação de sucata, seja por proibição, sobretaxa ou prioridade à indústria local. O Brasil precisa debater essa questão com a máxima urgência.

O Case de Sucesso das Latas de Alumínio no Brasil

A reciclagem de latas de alumínio no Brasil é um case mundial, impulsionada pela capacidade do alumínio de ser reciclado infinitamente sem perder suas propriedades, garantindo uma vantagem imensa em termos de circularidade. Atualmente, cerca de 60% do alumínio consumido no país provém da reciclagem, superando a média global de 33%. No caso das latas, o índice de reciclagem ultrapassa 95% há mais de 15 anos. Esse sucesso é fruto de investimentos pioneiros desde os anos 1990, políticas públicas de coleta e logística reversa, e o papel social dos catadores. Ademais, a reciclagem consome 95% menos energia que a produção primária, resultando em uma drástica redução nas emissões, um modelo que combina competitividade, sustentabilidade e inclusão social.

Fonte: Estadão

Adicionar um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Imagens e vídeos são de seus respectivos autores.
Uso apenas editorial e jornalístico, sem representar opinião do site.

Precisa ajustar crédito ou solicitar remoção? Clique aqui.

Publicidade