O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), tem se destacado como um negociador influente nos bastidores políticos de Brasília. Em uma recente reunião no Palácio da Alvorada, Alcolumbre apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma análise detalhada sobre a viabilidade da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Alcolumbre argumentou que Messias teria, em sua avaliação, apenas cerca de 25 votos no Senado, aquém dos 41 necessários para aprovação. Em contrapartida, ele apresentou o ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como o candidato preferido pela maioria da Casa, com potencial para obter “no mínimo”, 56 votos. Apesar da decisão de Lula parecer tomada, o senador conseguiu criar um espaço para negociação, adiando o anúncio oficial antes da viagem do presidente à Ásia.
Em paralelo à articulação para a vaga no STF, Alcolumbre também comemorou a autorização do Ibama para a Petrobras prospectar petróleo na Margem Equatorial. A liberação, que contraria a posição inicial da ministra Marina Silva, foi vista como uma Vitória para o senador e para a indústria, com repercussões significativas para a economia do país.
Acordo e Tensão Política
Fontes próximas ao presidente do Senado indicam que um acordo teria sido feito para adiar a votação de 63 vetos presidenciais, incluindo a Lei do Licenciamento Ambiental, para após a Conferência do Clima (COP-30). Em troca, o Ibama liberaria a exploração de petróleo na Margem Equatorial. Ambas as partes negam o acordo, mas a movimentação política sugere uma complexa teia de negociações.
Alcolumbre é conhecido por sua determinação e capacidade de articulação, tendo passado de membro do “baixo clero” a presidente do Senado. Sua atuação inclui o controle de R$ 3,8 bilhões em emendas parlamentares e a distribuição de cargos estratégicos em ministérios e estatais.
Relações e Estratégias
O senador também demonstrou habilidade em navegar as complexas relações dentro do Congresso e com o Judiciário. Ele garantiu que o Senado não pautará projetos de anistia a golpistas ou impeachment de magistrados, buscando manter a estabilidade institucional. Alcolumbre chegou a negociar com o STF a redução de penas para condenados de 8 de Janeiro em troca do arquivamento de projetos de anistia.
A movimentação de Alcolumbre em favor de Pacheco para o STF conta com o apoio de ministros como Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin, que preferem Pacheco a Jorge Messias. No entanto, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, defende abertamente a indicação de Messias, gerando atrito com os defensores de Pacheco.
O senador Rodrigo Pacheco, por sua vez, sinalizou a possibilidade de concorrer ao Governo de Minas Gerais em 2026, um movimento que busca fortalecer o campo democrático e o papel de protagonismo do estado. Essa articulação envolve a filiação do vice-governador Mateus Simões ao PSD, buscando consolidar uma base política forte para a sucessão de Romeu Zema.
O “Ghost” do Senado
Davi Alcolumbre é apelidado de “Ghost” (fantasma) por sua capacidade de aparecer e desaparecer estrategicamente nas negociações políticas. Longe dos holofotes, ele tece acordos e influencia decisões importantes, mantendo um perfil discreto, mas extremamente eficaz. O senador, conhecido por seu ritual religioso antes de sair de casa e superstições como a “Mão de Deus” na porta da residência oficial, parece equilibrar sua fé com uma pragmática atuação política.
O contexto político atual demonstra a importância de Alcolumbre como um articulador central, capaz de influenciar indicações para o STF, negociar pautas econômicas e moldar alianças para as próximas eleições, como a disputa pelo governo de Minas Gerais.
Fonte: Estadão
