Descarbonização Global em Crise: Por Que Projetos “Verdes” Estão Falhando?

Projetos de descarbonização como hidrogênio verde e SAF enfrentam crises globais, adiamentos e cortes de incentivos. Entenda os motivos.
descarbonização global — foto ilustrativa descarbonização global — foto ilustrativa

A descarbonização global, essencial para o cumprimento do Acordo de Paris e o combate ao aquecimento do planeta, enfrenta um cenário de retrocesso. Projetos de hidrogênio verde são adiados ou cancelados, o Mercado de crédito de carbono está em crise há quase três anos, montadoras revisam apostas em carros a gasolina e iniciativas de combustível sustentável de aviação (SAF) não saem do papel. Altos custos de implementação e políticas como as de Donald Trump nos EUA são os principais entraves.

Gráfico indicando a crise na descarbonização global e os desafios para projetos sustentáveis.
Desafios na descarbonização global.

Impacto das Políticas Americanas na Transição Energética

A mudança na política ambiental dos Estados Unidos, sob a administração Donald Trump, é apontada por consultores como um dos principais motivos da desaceleração das tecnologias limpas em todo o mundo. Seu antecessor, Joe Biden, havia implementado medidas de incentivo, inclusive fiscais, que foram parcialmente encerradas por Trump. Filipe Bonaldo, diretor da A&M Infra, explica que a retirada desses incentivos teve um efeito cascata global. “Tecnologias que estavam em fase de maturação, como SAF e hidrogênio verde, não vão sair do papel sem incentivos”, afirma.

Crise de Confiança e Viabilidade no Mercado de Carbono e SAF

Heloisa Baldin, fundadora da IWÁ, define a descarbonização como uma agenda desenhada por países ricos, mas um sonho para os em desenvolvimento. Ela aponta que a implementação das ferramentas é mais complexa do que o esperado e que algumas enfrentam uma crise de confiança. O mercado de carbono voluntário, em particular, está sem atratividade há quase três anos devido a desconfianças sobre a real compensação de emissões. Felipe Cammarata, sócio da Bain & Company, observa que a Falta de pragmatismo e as mudanças nas regras do jogo prejudicaram projetos viáveis.

Um exemplo claro é o incentivo do governo Biden para o SAF, que focava na importação ou produção com matéria-prima local. Trump restringiu esse incentivo para produção local com matéria-prima local. No Brasil, projetos como o da Acelen, controlada pelo fundo Mubadala, enfrentam atrasos. A companhia afirma estar progredindo, mas as obras da unidade integrada de produção de combustíveis renováveis ainda não começaram. As mudanças em políticas de incentivos, mesmo vindas do exterior, forçam companhias a reduzirem o tamanho dos empreendimentos, o que pode torná-los financeiramente inviáveis, já que usinas de SAF e hidrogênio verde exigem investimentos bilionários.

Produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF) no Brasil, com foco em investimentos e desafios.
Produção de SAF no Brasil enfrenta desafios de investimento.

Desaceleração na Indústria Automotiva e o Futuro dos Elétricos

A suspensão de um subsídio fiscal de US$ 7,5 mil para a venda de carros elétricos nos EUA, no início de 2024, intensificou o debate sobre a viabilidade desses veículos. Executivos de montadoras ocidentais voltaram a mencionar a robustez dos motores a combustão. Na União Europeia, a Alemanha pressiona por flexibilização da meta de proibição de carros novos a combustão a partir de 2035, diante da forte concorrência de veículos chineses. Cassio Pagliarini, da consultoria Bright, estima que a eletrificação ocorrerá, mas em menor velocidade do que se previa. Embora o segmento de elétricos na Europa ainda cresça, atingindo 15,8% das vendas nos primeiros oito meses de 2024, a necessidade de convencer o consumidor e as incertezas políticas freiam o ritmo.

Desafios Estruturais e Oportunidades para a Descarbonização

Além das alterações em incentivos, altas taxas de juros e a necessidade de grandes recursos para viabilizar empreendimentos são desafios persistentes. A falta de contratos de venda de longo prazo também dificulta a concretização de investimentos. Marc Moutinho, líder do ITA no Brasil, destaca que tecnologias de descarbonização na indústria e no transporte de longa distância requerem incentivos públicos e regulamentação favorável, como ocorreu com a energia eólica, solar e o etanol no Brasil. Apesar dos custos elevados, é possível encontrar aplicações onde essas tecnologias são competitivas, como o uso de hidrogênio verde na fabricação de fertilizantes com baixa pegada de carbono no mercado doméstico.

Fonte: Estadão

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