O programa Reforma Casa Brasil, lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem potencial para injetar R$ 52,9 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e aumentar a arrecadação de impostos em quase R$ 20 bilhões. Essas projeções são resultado de um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Voltado para a classe média, o programa prevê R$ 40 bilhões em crédito habitacional para reformas e ampliações de residências. Caso esses recursos sejam liberados em um único ano, o impacto total sobre o PIB do setor da construção foi estimado em R$ 17,7 bilhões, o que representaria um acréscimo de 0,38 ponto porcentual ao PIB nacional. Este cálculo considera os efeitos diretos (construção), indiretos (fornecedores) e induzidos (gastos com a renda gerada).

Os efeitos indiretos do programa são significativos, com um aumento projetado de R$ 35,2 bilhões na demanda por materiais da indústria e do comércio, equivalendo a 4,8% da produção desses elos. Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção no Ibre/FGV, destaca a capacidade do setor de movimentar a economia: “Ele demanda o tijolo, demanda o cimento, contrata mão de obra, serviços… Ele movimenta a indústria de materiais, movimenta o comércio atacadista e varejista. Essa movimentação, por sua vez, gera mais emprego e mais renda.”
Impacto na Arrecadação de Impostos
O estudo da FGV aponta que o Reforma Casa Brasil pode elevar a arrecadação de tributos em R$ 19,6 bilhões, considerando todos os efeitos econômicos. Esse aumento na arrecadação é explicado pelos fortes efeitos de encadeamento produtivo que o setor da construção gera.
Desafios e Oportunidades do Programa
Para Ana Maria Castelo, o programa tem potencial para atender a carências habitacionais significativas no país, mas a sua efetividade dependerá da operacionalização e liberação dos recursos. Ela ressalta a necessidade de o Governo acompanhar e corrigir distorções que possam surgir, citando dados da Fundação João Pinheiro que indicam que 27,6 milhões de domicílios apresentavam inadequação em 2023.
Um dos principais gargalos identificados é a escassez de mão de obra qualificada. Caso haja dificuldade em contratar trabalhadores, a demanda pelo crédito pode ficar aquém do esperado. O governo pode precisar investir em treinamento para suprir essa demanda.
Mercado de Trabalho na Construção Civil
O setor da construção civil já enfrenta dificuldades para encontrar mão de obra, mesmo oferecendo salários mais altos. Segundo o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), o salário médio de admissão na construção foi de R$ 2.462,70 em agosto, superior à média global de contratados. Janaína Feijó, pesquisadora do Ibre/FGV, confirma a escassez e a dificuldade dos empregadores em suprir seus cronogramas de atividade.
Apesar da escassez de mão de obra, a Sondagem da Construção da FGV indica que as empresas operam com relativa ociosidade e estoques adequados, o que pode mitigar o impacto inflacionário do programa nos preços dos materiais. O Índice Nacional de Custo da Construção – Disponibilidade Interna (INCC-DI) acumulou alta de 6,78% em 12 meses até setembro, com o componente Mão de Obra respondendo por 4,06 pontos porcentuais dessa taxa, evidenciando a pressão inflacionária vinda do custo do trabalho.
Fonte: Estadão