Café Caro: Tarifas e Clima Elevam Preços nos EUA

Preços recordes de café nos EUA: entenda como tarifas impostas sobre o Brasil e mudanças climáticas afetam sua xícara.
preços recordes de café — foto ilustrativa preços recordes de café — foto ilustrativa

Americanos continuam enfrentando preços recordes para o café, uma realidade intensificada desde que os Estados Unidos implementaram uma tarifa de 50% sobre o produto brasileiro em julho. O Brasil é o maior produtor mundial de café.

Recentemente, os preços no Mercado futuro voltaram a registrar altas expressivas. Isso ocorre à medida que os estoques de grãos brasileiros nos EUA atingiram o menor nível desde 2020. A situação se agrava com as ameaças do presidente Donald Trump de impor tarifas também sobre a Colômbia, outro importante exportador.

Guerra Comercial e Fatores Climáticos

Embora a guerra comercial iniciada pelo presidente americano chame a atenção, um fator estrutural e igualmente importante por trás da alta nos preços é a crise climática. As regiões produtoras de café no Brasil têm sofrido com uma seca severa.

Em partes de Minas Gerais, por exemplo, o volume de chuvas em setembro ficou cerca de 70% abaixo da média histórica. Na semana passada, o registro foi inferior à metade do esperado para o período, segundo análise meteorológica da Bloomberg Brasil.

Fernando Maximiliano, gerente de inteligência de mercado de café da StoneX, ressalta que “essas tarifas são uma camada adicional, mas não podemos ignorar o fator estrutural principal, que é a oferta mais restrita”.

Plantas de café em fazenda no Brasil sofrendo com a seca.
Seca intensa em regiões produtoras de café no Brasil impacta a oferta global.

Impacto nos Preços Futuros e Consumo

Desde agosto, os preços futuros do café arábica, a variedade mais cultivada no Brasil, subiram quase 40%, aproximando-se de níveis recordes. O café robusta, usado principalmente em cafés instantâneos, viu seus preços aumentarem cerca de 37%.

O Brasil representa quase 40% da produção mundial de café. Desde 2020, o país tem enfrentado secas anuais, o que, segundo analistas, levou a demanda mundial a superar a oferta. Maximiliano prevê que o reequilíbrio só ocorrerá quando os consumidores reduzirem o consumo devido aos preços elevados, em vez de um aumento na produção.

A Conab sinaliza que as chuvas recentes podem aliviar o estresse nas plantas causado pela estiagem anterior. Recentemente, houve conversas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump sobre a retirada das tarifas sobre produtos brasileiros. Um possível acordo poderia baratear o café para os americanos com o reabastecimento dos estoques.

Gráfico de preços futuros do café arábica em alta.
Contratos futuros de café arábica atingiram novos recordes em Nova York.

Perspectivas de Longo Prazo e Adaptação Climática

No longo prazo, a tendência é de aumento contínuo dos preços, impulsionada pela elevação das temperaturas. Estudos apontam que, até 2050, apenas cerca de 50% das atuais áreas de cultivo de café serão adequadas devido às mudanças climáticas.

Países produtores já se mobilizam para o futuro. Pesquisadores brasileiros buscam novas zonas de cultivo com temperaturas mais amenas e maior disponibilidade de chuvas ou irrigação. Iniciativas em países como Brasil e Uganda visam proteger as plantas do calor e da seca, além de investir em clonagem para desenvolver cultivares mais resistentes.

Kleber Santos, auditor fiscal do Ministério da Agricultura, destaca a resiliência brasileira: “Nossa grande vantagem é que, dentro do próprio território, conseguimos encontrar condições diferenciadas e adequadas ao café.”

As adaptações necessárias para tornar o café mais resiliente, como investimentos em novas técnicas de cultivo, fertilizantes e colheita, provavelmente encarecerão ainda mais o produto.

Daniel El Chami, diretor de estratégia sustentável da TIMAC AGRO International, enfatiza a necessidade de adaptação: “Se o clima está mudando, precisamos entender isso e nos adaptar. Não dá para continuar criando novas demandas e novos materiais de consumo como se o clima não existisse.”

Fonte: Folha de S.Paulo

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