O Banco Central (BC) estabeleceu uma ‘sala de guerra’ para combater a crescente onda de ataques hackers que tem afetado o sistema financeiro. Antônio Juan Ferreiro Cunha, chefe-adjunto do Departamento de Supervisão de Conduta do BC, descreveu a sucessão de golpes como uma ‘avalanche’, surgida de forma ‘inesperada’.
“Claro que era um risco monitorado, mas veio uma avalanche de forma inesperada e montamos uma ‘war room (sala de guerra)’ dentro do BC. Isso demandou uma série de medidas, até de caráter normativo, para tentar mitigar o riscos de que novos eventos ocorressem. Tivemos inúmeros reuniões no comitê de crise, mas a gente sabe que amanhã o crime organizado vai se aproveitar de outra brecha, que eles descobrem com uso intensivo de tecnologia. E as normas e a supervisão precisam estar em uma crescente para acompanhar esse movimento”, explicou Cunha durante a 15ª edição do Congresso de Prevenção à Lavagem de Dinheiro e ao Financiamento do Terrorismo (PLDFT).
Reformulação da Prevenção à Lavagem de Dinheiro
Cunha também destacou a necessidade de revisão do modelo atual de Prevenção à Lavagem de Dinheiro (PLD), defendendo medidas que agilizem a troca de informações entre reguladores e o setor privado. “As coisas estão acontecendo em uma velocidade tão grande, que precisamos ter respostas extremamente rápidas também. Os processos de troca de informações são burocráticos demais”, ressaltou.
Kelly Massaro, presidente-executiva da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), corroborou a urgência por uma maior troca de informações. Ela sugeriu a criação de uma base de dados comum, semelhante à Resolução 6 do BC, onde bancos possam registrar CPFs com indícios de fraudes. Massaro apontou desafios como a operação de eFX (serviços de pagamento ou transferência internacional com limites de US$ 10 mil) e o mercado de apostas esportivas (‘bets’). “O eFX traz um desafio, porque às vezes uma única operação pode gerar milhares de linhas em PLD. Como uma instituição consegue, a olho nu, identificar entre transações de tíquete médio extremamente baixos, que existe ali uma operação de uma bet não regulada, por exemplo? Já tivemos casos de operações que foram classificadas como livraria, açougue, e depois viu-se que eram de bets”.
Desafios Tecnológicos e Novos Serviços Financeiros
Paulo Carreiro, superintendente sênior de trade finance & FX do Bradesco, enfatizou as transformações no Mercado de câmbio, que se tornou uma operação de larga escala com pagamentos de baixo valor (mass payments). “São muitas contrapartes e com um volume total muito grande, então traz um desafio que exige velocidade, tecnologia”, disse. Ele mencionou que o tema está alinhado a futuras normas do BC sobre eFX, Prestadoras de Serviços de Ativos Virtuais (VASP) e serviços de Banking as a Service (BaaS).
Fonte: Valor Econômico