O formato de loja conhecido como ultra-hard-discount, que oferece produtos com preços extremamente baixos e sem serviços agregados ao consumidor, está prestes a chegar ao Brasil. O grupo russo Svetofor anunciou a abertura de sua primeira unidade no país ainda em 2024, sob a bandeira Vantajoso.
A expectativa é que a estreia ocorra na cidade de Americana, localizada no interior de São Paulo. A ambição do grupo é expandir rapidamente, com planos de estabelecer 50 lojas no formato ultra-hard-discount nos próximos dois a três anos. Essas novas unidades devem se concentrar nas periferias de cidades brasileiras, com foco inicial nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Karina Storozhenko, responsável pela implantação da rede no Brasil, lidera este projeto que visa consolidar a marca no Sudeste, região com a maior concentração do mercado consumidor do país.
Contexto de Mercado e Estratégia
A decisão do grupo russo de investir no Brasil foi motivada pelo tamanho expressivo do mercado e pela popularidade do formato atacarejo entre os consumidores brasileiros. A vasta extensão territorial e a diversidade de renda da população também foram fatores atrativos para a expansão internacional da companhia. O objetivo principal é tornar a marca sinônimo de preços consistentemente baixos, atendendo a um público de renda média/baixa que busca economia, mas sem excluir consumidores de maior poder aquisitivo que valorizem a relação custo-benefício.
As lojas do modelo ultra-hard-discount são projetadas com uma área de vendas de aproximadamente mil metros quadrados e um sortimento de produtos mais enxuto em comparação com supermercados e hipermercados tradicionais. A filosofia operacional se baseia na redução de Custos em todos os aspectos para garantir preços baixos contínuos.

O Modelo Ultra-Hard-Discount no Cenário Global
O especialista Marcos Escudeiro, conselheiro de empresas e professor de Varejo na ESPM, destaca o crescimento notável dos hard discounters em mercados globais, tanto em países desenvolvidos quanto em economias emergentes. Redes como Aldi e Lidl são exemplos proeminentes, com milhares de lojas em mais de 20 países e expansão contínua. Escudeiro menciona outros exemplos de sucesso, como Biedronka na Polônia, ARA e D1 na Colômbia, BIM na Turquia e Bara e 3B no México.
O grupo russo Svetofor, fundado em 2009, opera sob as bandeiras Svetofor na Rússia e Mere em mercados internacionais, totalizando mais de 2 mil lojas. A expansão europeia do grupo foi impactada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, levando-o a buscar novos mercados, como o Brasil.
O Potencial do Ultra-Hard-Discount no Brasil
Atualmente, o Brasil não possui lojas no formato ultra-hard-discount. Este modelo se diferencia pela margem mínima de Lucro, operações simplificadas, sortimento reduzido e exposição de produtos diretamente nos paletes, com decoração mínima e poucas ações de marketing, fatores que contribuem para a redução de preços.
Históricamente, o Brasil já viu tentativas de implantação deste modelo. Nos anos 1980, o Grupo Pão de Açúcar lançou o Minibox, e nos anos 2000, o Bank Of America investiu no Econ. Ambos os projetos, no entanto, não progrediram devido a questões internas.
Escudeiro avalia que o ultra-hard-discount tem um futuro promissor no Brasil, sendo visto como o sucessor natural do atacarejo. A crescente sofisticação e o consequente aumento dos custos operacionais dos atacarejos, que buscam oferecer mais serviços e experiência de compra, abrem espaço para o modelo de desconto extremo. A pesquisa aponta que a diferença de preços entre atacarejos e supermercados tradicionais tem diminuído, favorecendo o ultra-hard-discount a capturar consumidores sensíveis ao preço.
Investida Russa e Capital Estrangeiro no Varejo
A chegada do grupo Svetofor ao Brasil marca a primeira investida significativa de capital russo no setor de supermercados do país. Sendo um grupo familiar de capital fechado, o Svetofor não divulga seu faturamento detalhado, apenas que atinge centenas de bilhões de rublos. Dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) indicam uma presença limitada de capital estrangeiro entre as maiores empresas do varejo alimentar brasileiro. Atualmente, apenas o Carrefour (francês) e a Cencosud (chilena) figuram entre as dez maiores redes em faturamento. O mercado já testemunhou a atuação de redes norte-americanas como o Walmart e portuguesas como Sonae e Jerónimo Martins, mas a entrada de capital russo representa um novo capítulo nesse cenário.
Fonte: Estadão